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Artigo sobre corrupção no futebol

Nos últimos dias a imprensa divulgou um grande escândalo de corrupção no futebol, envolvendo a FIFA, há muito esperado. Tanto o espectador quanto diversas entidades sabiam ou suspeitavam das inúmeras irregularidades que vieram a tona. No caso das entidades uma merece destaque, o Financial Action Task Force (FATF) que em 2009 publicou o relatório Money Laundering Through the Football Sector. A entidade em questão, fundada em 1987 por iniciativa do G7 para dedicar-se ao combate de lavagem de dinheiro, expõe ao longo do relatório as práticas de corrupção, lavagem de dinheiro, fraude, conspiração e extorsão no futebol.

A abordagem da corrupção exige antes de tudo uma definição clara. Todos nós pensamos que se trata de algo de quem se utiliza do cargo para tirar vantagens pessoais. Onde há poder é onde alguém pode mandar nos outros. Assim, sempre haverá a tendência natural de alguém subjugar o outro indevidamente, pois é o exercício do poder que nos organiza enquanto sociedade. A corrupção hoje sob investigação na FIFA cabe dentro desse enredo. Essa fácil equação tem um erro: a de que a corrupção é inevitável.

Ao contrário, é possível controlar a corrupção. Basta começar a entendê-la sob outro aspecto. O uso indevido dos recursos se revela por elementos acima do esperado. Quanto mais corrupção houver, maior será o tempo, valores mobilizados, pessoas envolvidas, ou seja, sempre haverá um indicador quantitativo acima do esperado. A longevidade de um dirigente a frente de uma federação internacional que movimenta bilhões de euros, dólares, reais, yens ou de qualquer moeda utilizado em algum país é naturalmente algo de se estranhar. Não existe tanta eficiência assim que justifique alguma coisa dessas que não seja o conluio de interesses que teimam em se manter exatamente no mesmo lugar. O que a história nos mostra dos ditadores? Que eles lá estavam somente para tirar vantagens pessoais. Não existe um caso sequer nos fatos vividos pela humanidade que justifique alguma santidade ou beatitude daqueles que permaneceram por longo tempo a frente de instituições.

O melhor remédio para controlar a corrupção no futebol são a rotatividade democrática e a transparência! Mas como otimizar esses dois princípios? A revisão da estrutura organizacional seria um primeiro passo, com limitação do mandato do comitê executivo para dois anos e ampliação da transparência nas eleições e nas finanças. Outros mecanismos poderiam ser adotados como, por exemplo, o monitoramento das áreas de risco tais como: contratos de TV; venda e distribuição de tickets; suporte financeiro para as confederações, etc.

O que se deve ter em mente é que o futebol é um esporte mundialmente apreciado e , talvez, possamos nos valer dele para promover uma campanha de integridade aqui e acolá. O esporte pode, e deve ser um agente propagador da ética e de boas práticas de governança. Que a nossa Confederação Brasileira de Futebol comece a dar o exemplo!!
Alvaro Martim Guedes é especialista em Administração Pública e Professor da Unesp em Araraquara. 

Rita Biason é cientista política, professora na Unesp/Câmpus de Franca e coordena, na mesma instituição, o Centro de Estudos e Pesquisas sobre Corrupção (www.cepcorrupcao.com.br).

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