RACISMO: técnicos negros são minoria na elite do futebol paraense - SóEsporte
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RACISMO: técnicos negros são minoria na elite do futebol paraense

RACISMO: técnicos negros são minoria na elite do futebol paraense

Samuel Cândido e Hélio dos Anjos foram as exceções neste ano no Pará

Andre Gomes

“Negar e silenciar é confirmar o racismo”. O encontro entre os únicos técnicos negros do Brasileirão Série A no último fim de semana, Roger Machado (Bahia) e Marcão (Fluminense), foi um momento especial, mas também expôs a desigualdade racial no futebol, escancarada na frase acima do comandante do tricolor baiano. Um problema que tem cor e alvo bem definidos, ainda que seja empurrado para debaixo dos lençóis, como afirma o advogado e militante do movimento negro Paulo Victor Squires.

“O negro no Brasil – pretos e pardos – não são vistos como intelectualmente capazes de conduzir empresas, equipes e times de futebol. São vistos somente como atletas geneticamente fortes, fisicamente capazes. E mesmo tendo atletas negros entre os melhores do país e os melhores do mundo, a questão racial segue sendo um assunto velado”.

MINORIA NO PARÁ

Quando se fala de futebol paraense, a realidade não é diferente. Em 2019, apenas dois técnicos negros passaram pela elite do Parazão: Samuel Cândido (Paragominas e Bragantino) e Hélio dos Anjos (Paysandu). Dois nomes que dividem a mesma cor, mas experiências divergentes.

“Tenho 35 anos de futebol e nunca tive portas fechadas por ser negro. Trabalhei em cidades com colonizações alemã e italiana e nunca fui descriminalizado. Nem também em qualquer setor da sociedade”, afirma Hélio. “É questão de personalidade e confiança”.

Paulo Victor é advogado e militante do movimento negroPaulo Victor é advogado e militante do movimento negro (Akira Onuma / OLiberal)

Já Samuel Cândido endossa a fala de Roger Machado. Ele lembra quando conquistou o primeiro turno do Parazão pelo Papão, em 2006, e depois de vencer o primeiro jogo da final, foi demitido. No ano seguinte, campeão estadual no Remo, Samuel foi dispensado após somente três jogos na Segundona.

“Nós gostaríamos de mais oportunidades mostrarmos o nosso trabalho e valor também, porque capacidade todos já demonstraram. Tem muitos técnicos competentes, mas o mercado para o técnico negro é muito restrito. Ele tem que ser muito qualificado, mas mesmo assim ainda gera desconfiança”, opina Samuel.

A IMPORTÂNCIA DE EXPOR

Para o advogado é importante que mais manifestações como a de Roger sejam feitas, no entanto, caso atletas de maior renome, como Pelé, Ronaldinho Gaúcho e Neymar, se manifestassem contra o preconceito racial, os avanços poderiam ser maiores.

“O jogador brasileiro negro não reconhece a cor de sua pela, o seu cabelo, o seu nariz. Tenta de toda maneira esconder. Quando chega na Europa é apontado como negro, passando a ser ofendido e continua a se esconder da questão. Logicamente, há vários pontos dentro disso a serem debatidos”, explica Paulo Victor.

CAMINHOS CONTRA O RETROCESSO

Nos últimos anos, a FIFA tem tomado posições a respeito, porém, Paulo Victor cobra mais severidade nas punições. O advogado também cita a necessidade do enfoque em políticas públicas raciais, debates nos mais diversos setores, além da aplicação da Lei 10.639/03 que introduz a disciplina de história afro-brasileira no currículo escolar, como formas de lutar contra o preconceito.

“É um caminho longo e árduo a ser enfrentado. E que mais profissionais se posicionem como Roger e Marcão, na esfera local – estado do Pará – e nacional e nos ajudem a enfrentar o racismo na sociedade e ajude a diminuir as diferenças raciais brasileiras.”

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