Em busca da oitava! Hugo Hoyama conta as histórias das sete Olimpíadas que participou e a expectativa para 2021
De promessa do tênis de mesa a treinador da Seleção feminina, uma viagem pelos momentos dos oito ciclos olímpicos
Hugo Hoyama, um dos grandes do tênis de mesa brasileiro. Arte: André Soares.
Por Assessoria de Imprensa – CBTM
Era para ser em 2020, mas ficou para 2021. Hugo Hoyama, 50 anos, pode completar seu oitavo ciclo olímpico em Tóquio, o segundo como técnico. Uma história recheada de bons e curiosos momentos. Pedimos a ele, um dos maiores ídolos da modalidade em nosso país, para relembrar cada uma das passagens dele nos Jogos.
1992 – Barcelona
“Foi minha primeira participação em Jogos Olímpicos e, por um triz, não pude participar, quer dizer, até poderia, mas seria muito difícil enxergar a bolinha! É que três dias antes da estreia, o meu olho direito ficou inflamado. O médico da delegação me falou que eu teria de ficar com tapa-olho por dois dias e depois me diria se eu poderia jogar! Felizmente deu tudo certo, e joguei até bem, vencendo o primeiro jogo no grupo, do Dmitri Mazunov. Na época, ele estava entre os 40 do mundo”.
1996 – Atlanta
“Na minha segunda participação, tive dois momentos significativos. Três semanas antes do início dos Jogos, meu grande amigo e parceiro Claudio Kano sofreu um acidente fatal de motocicleta. Iríamos jogar o torneio de duplas e o individual. Foi duro chegar em Atlanta sem a sua companhia, mas eu coloquei na minha cabeça que iria lutar por mim e por ele! E foi a minha melhor participação nos Jogos, onde, na fase de grupos, venci o Kim Song Hui, da Coréia do Norte, número 30 do ranking mundial (se a memória não falha), o Dexter Sant-Louis, de Trinidad e Tobago, que estava próximo ao 150° lugar, e o Jorgen Persson, da Suécia, quinto do mundo e candidatíssimo à medalha olímpica. Eu estava próximo ao 70° lugar do ranking mundial, e somente um se classificava para a fase final! A vitória sobre o Jorgen foi uma das mais importantes da minha carreira”.
2000 – Sidney
“Todos sabem que adoro futebol, sou palmeirense fanático, e em 2000, o Alex estava disputando os Jogos, com o Vanderlei Luxemburgo como técnico, de quem sempre fui fã. E estava lá o Ronaldinho Gaúcho também. Fiquei sabendo que eles entrariam na Vila, pois nas finais o Brasil jogaria em Sidney, e fui lá perto das casas onde eles ficariam hospedados. Os jogadores começaram a sair, aí vi o Alex e Ronaldinho juntos. O Ronaldinho virou-se para mim e disse: “E aí Hoyama, beleza? Tem uns caras aí no futebol que pensam que jogam muito tênis de mesa, você precisa dar um coro neles”. Fiquei feliz por ele me reconhecer. O Alex conversou comigo, perguntei algumas coisas do Palmeiras, de quando ele jogou lá, e conversei também com o Vanderlei. Ele estava animado com a equipe, mas infelizmente não veio o ouro. Mas só de conversar com eles, além de outros jogadores, foi muito legal!!!”
2004 – Atenas
“Eu enfrentei um jogador da Polônia, Tomasz Krzeszewski, e fui derrotado por 4 a 0. Eu comecei bem o jogo, fiz 10 a 8, mas ele virou e venceu por 12 a 10. A partir daí, perdi a confiança, não conseguia receber bem o saque dele, e não consegui fazer praticamente nada do que eu estava preparado. Mas o pior: esse jogo foi transmitido ao vivo para o Brasil, e eu não sabia! Quando voltei para casa, meus amigos me zoaram muito, alguns até me deram bronca, porque viram o jogo, e ouviram meus muitos palavrões ditos durante a partida!!! Foram realmente muitos palavrões, até sobrou para a mãe do adversário…”
2008 – Pequim
“Eu também adorava acompanhar os jogos dos Los Angeles Lakers, da NBA, desde a época do Magic Johnson. E sabia que o Kobe Bryant estava lá, com o Dream Team. Estava eu voltando do jantar, chegando perto do nosso prédio, vi uma pequena muvuca. Quando pude ver o que estava acontecendo, simplesmente era o Kobe, tirando fotos com a galera! Não sei o que ele estava fazendo lá, nem quis saber, só queria tirar uma foto com ele. Fiquei na fila, e quando chegou a minha vez, ele sentou no banco. Fiquei ao lado dele e tirei a foto. Logo depois da minha foto, seu segurança falou para a galera que ele queria descansar. Fui o último a tirar a foto! Infelizmente, em 2020, ele se foi naquele acidente de helicóptero! Fiquei em choque quando apareceu no meu celular a manchete do acidente, e que ele havia falecido”.
2012 – Londres
“Gostaria de colocar aqui um fato que aconteceu para eu poder disputar os Jogos de Londres. Houve uma seletiva para ver quem iria disputar o Pré-Olímpico, que seria realizado no Rio de Janeiro. Na seletiva nacional, somente o campeão garantiria a vaga para o Pré-Olímpica, e durante três dias, disputei 10 jogos! Eu estava com 43 anos, e sabia que se não vencesse a seletiva seria muito difícil ser indicado pela comissão técnica para a terceira vaga, pois o Gustavo Tsuboi já estava garantido. Na 1a fase, ganhei cinco e perdi duas, uma inclusive para o Hugo Calderano, que já estava entrando no grupo. Na fase final, venci o Hugo, por 4 a 2, o Thiago Monteiro na semifinal, e o Cazuo Matsumoto na final, por 4 a 1! Foi o primeiro passo para Londres.
Depois disso, disputei o Pré-Olímpico, que realmente foi muito desgastante, pois foram dez jogos difíceis. No final, vencer o Thiago Monteiro e o Cazuo Matsumoto por duas vezes, mostrou que eu merecia a vaga! Agradeço muito ao Jean-René, técnico da Seleção na época, por ter me dado essa oportunidade de ao menos lutar por uma vaga na equipe! E também agradecer ao meu amigo Willian Kumagai, que foi meu técnico durante a seletiva e me deu muita força, principalmente nos momentos mais difíceis”.
2016 – Rio de Janeiro
“Minha primeira Olimpíada como técnico, e foi emocionante receber o carinho da torcida brasileira, mesmo não entrando na mesa como jogador! Antes das rodadas, os atletas entravam primeiro, e depois entravam os técnicos. Nessa hora, todos me aplaudiram muito, alguns gritaram meu nome, fiquei muito emocionado com isso”.
2020 (2021) – Tóquio
“A equipe feminina garantiu a vaga no Pré-Olímpico, e, agora posso falar que, antes da final contra Porto Rico, foi a vez em que eu fiquei mais nervoso no comando da Seleção! Poucas pessoas sabem disso, mas na hora de escalar a equipe, começou a dar aquele frio na barriga! Até antes de começar o jogo estava assim. Mas, quando nossas meninas começaram a jogar, fiquei tranquilo, e no final deu tudo certo! Mas vou falar: é muito bom esse frio na barriga, pois mostra que a vontade de vencer pelo nosso país existe dentro de nós! Espero poder estar com elas em Tóquio em 2021”
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