A saga da construção dos estádios
Este capítulo tem tudo a ver com o meu tempo de engenheiro e administrador de órgãos públicos, funções que desempenhei com relativo êxito durante um bom tempo da minha vida. Lembro, a propósito, como foi a construção dos dois maiores estádios de futebol da Paraíba – o Amigão e o Almeidão – e faço disso a minha sexta vida.
O Presidente Medici, no auge da ditadura militar, gostava muito de futebol: de radinho de pilha no ouvido, ia ao Maracanã e até recebeu umas batidinhas na barriga por Dario, quando das comemorações da Copa do México.Então se espalhou pelo país, a febre da construção de estádios de futebol e, claro que a Paraíba não poderia ficar de fora.
O Governador Ernani Sátyro que, diga-se de passagem, não era muito afeito ao chamado esporte-bretão, inicialmente resistiu, mas sucumbiu ante as pressões dos torcedores e da imprensa, no movimento que foi liderado pelo então deputado Assis Camelo, à época também presidente do Conselho Regional de Desportos.
Recordo que Dorgival Terceiro Neto, prefeito da capital foi à minha casa e me outorgou, com a cumplicidade do José Carlos Freitas, Secretário da Educação e Cultura do Estado, a tarefa de criar um órgão específico que cuidasse da construção e administração de dois estádios de futebol – um para João Pessoa e outro para Campina Grande. Afinal, Ernani havia decidido que se a Paraíba precisava de estádio moderno, não ia ter somente um. As duas cidades seriam contempladas com estádios à altura delas.
Isso foi em outubro de 1973 e a operação parecia impossível porque a condição que o velho Ernani impunha era de que os dois estádios deveriam ficar prontos antes do dia 15 de março de 1975 – data em que passaria o governo para o seu sucessor.
Foram, então, 15 meses de intenso trabalho: primeiro para criar e fazer funcionar a SUDEPAR – Superintendência dos Estádios da Paraíba, órgão que ligado à Secretaria da Educação, seria responsável pelo recebimento e boa aplicação das verbas. E depois (o mais difícil), conseguir bons projetos e licitar as obras para a escolha de empresas idôneas que pudessem realizar o que, para muitos, parecia inviável.
Para resumir, agora que se vão 35 anos, foi um trabalho hercúleo de que alguns milhares de pessoas participaram entre engenheiros, técnicos, artífices e operários. E o problema era tão mais difícil porque a encomenda tinha uma característica toda especial: o Doutor Ernani – como bom político – queria que os estádios fossem praticamente iguais, no máximo com pequena diferença. A solução? Pode ser vista nas fachadas principais do Almeidão e do Amigão – os arcos da obra de João Pessoa são voltados para cima, os de Campina, para baixo. No resto tudo é exatamente igual, pois os projetos foram idênticos apenas com essa sutil diferença que muita gente talvez ainda não tenha observado.
Muitos dos meus cabelos ficaram brancos a partir daquela epopéia – tinha eu então 35 anos. Mas, o resultado está aí para todo mundo ver. Os estádios ficaram prontos no prazo determinado, graças aos esforços de um punhado de excelentes engenheiros e técnicos à frente José Neutel Correia Lima, em João Pessoa e Hércules Gomes Pimentel, em Campina Grande – ambos, infelizmente, já falecidos e às centenas de operários anônimos que, na verdade, foram os principais artífices das obras executadas.
Essas duas belas praças desportivas já têm 35 anos de construídas e fazem parte, de forma indelével, da minha vida.
No próximo domingo,o último capítulo dessas sete vidas que parecem coisa de gato…
Carlos Pereira, jornalista, engenheiro, com passagem por várias secretárias do Estado e atualmente é superintendente do DER-PB