
Com salário de aproximadamente R$ 30 mil, o agora famoso Pio ganhou o apelido ainda na infância pobre, quando a mãe, Antônia Lidoína, uma humilde empregada doméstica, tinha pressa em ver seu bebê falar as primeiras palavras.
– Não é possível! Esse menino não dá um pio – reclamava.
O garoto cresceu, torceu pelo Flamengo, rodou o Brasil, bateu uma bola em Portugal, quase viu a carreira ser vencida pelo alcoolismo e, agora, é ídolo em Fortaleza. E vilão para a torcida do Flamengo.
– Aos 18, 19 anos, eu tinha que tomar três cervejas para conseguir dormir. O que ganhei, gastei – lembra o volante-artilheiro do Fortaleza, clube de uma modesta folha salarial no valor de R$ 600 mil.
CARREIRA – Comecei no salão, aos 11 anos, na AABB. Fui para o campo aos 13, para o Estação Antônio Bezerra. Em 2004, fui aprovado em uma peneira do Corinthians e cheguei a treinar com o profissionais durante as passagens do Antônio Lopes e o Leão. Passei por Sporting e Gil Vicente, de Portugal, Grêmio, Aracati-CE, Treze-PB, ABC-RN, Mirasol-SP. Há um ano e cinco meses estou no Fortaleza. Sou bicampeão cearense. Tenho dez títulos na carreira.
ALCOOLISMO – Fiquei um ano desempregado, de agosto de 2008 a agosto de 2009. Só queria saber de festa, noitada, bebida. Aos 18, 19 anos, eu tinha que tomar três cervejas para conseguir dormir. O que ganhei, gastei. Não queria saber quanto ia ganhar. Quando me dei conta, já tinha ido tudo embora. Aí, em 2009 decidi largar tudo e seguir outro caminho. As coisas começaram a acontecer. Estou há seis anos sem tomar uma gota de álcool.
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VOLANTE-ARTILHEIRO – Em 2014, fiz 14 gols. Em 2015, fiz nove. A forma como bato na bola é um dom que Deus me deu. As pessoas perguntam: “Como esse magrinho consegue chutar assim?” Estou construindo uma história.
SONHO – Meu maior sonho eu conquistei: larguei a bebida e dou uma vida melhor para minha mãe (Antônia Lidoína). Somos seis irmãos, tive infância pobre, ela trabalhava como doméstica. Tenho esposa (Luiza) e um filho, Caíque.
FLAMENGO – Para deslanchar, toda equipe precisa de entrosamento. O Flamengo ainda não encontrou esse entrosamento. Os jogadores são qualificados. E tem mais: qualquer um fica motivado quando vai enfrentar o Flamengo.
INSÔNIA – Estou acordado até agora. Não foi pelos gols, mas pelo jogo. É muita adrenalina.
MÁGOA – A imprensa não valorizou a classificação do Fortaleza. Falou que a eliminação do Flamengo foi precoce. É sempre assim. Time pequeno nunca tem seus méritos. Mas, as pessoas já estão olhando o Fortaleza de uma forma diferente. O respeito voltou.
GUERRERO – Se eu falar que a ausência dele não foi ruim para o Flamengo, estou mentindo. No jogo na Arena Castelão, ele fez um gol. Um centroavante como ele com certeza estaria ali para fazer gol. Sem tirar os méritos do Fortaleza, a verdade é essa.
TIME – O pior é que eu gostava demais do Flamengo quando era garoto. Em 2001, vibrei muito quando o Pet fez aquele gol no 3 a 1 (sobre o Vasco). Mas em 2004 fui para o Corinthians e… Eu tinha um carinho enorme por esses dois clubes.
INVICTO – Eu nunca tinha enfrentado o Flamengo até esses dois confrontos pela Copa do Brasil. Estou invicto contra o Flamengo.
APELIDO – Quando era criança, demorei muito a aprender a falar. Minha mãe dizia: “Não é possível! Esse menino não dá um pio”. Pegou.
CAMISA – Peguei a do Alan Patrick e do Everton. Mas não dei a minha. Vai ficar num quadro. Fazer dois gols contra o Flamengo é histórico. Só esqueci a bola. Quando fui procurar, já era.
CONTRATO – Tenho contrato até o fim de novembro. Todo jogador quer o melhor… Só penso no Fortaleza agora.
