A década era a de 70 e o Botafogo jogava apenas com as cores preta e branca. O time não atravessava uma fase boa e não conquistava títulos. A tabela do campeonato marcava para aquele domingo chuvoso um dificílimo jogo contra o Guarabira, fora de casa, no Estádio Sílvio Porto, de gramado bastante irregular. O azulão do brejo, como era conhecido a equipe, estava com um time bem arrumado, entrosado e vinha de bons resultados.
Ao belo só restava à vitória. Um empate prejudicaria muito e uma derrota nem sonhar. Era tudo ou nada. Tinha que ir pra frente, atacar e resolver o jogo já na primeira etapa, o que não ocorreu, apesar das inúmeras chances desperdiçadas. O time do Botafogo era mesclado por jogadores experientes, próximos da aposentadoria e por jogadores que haviam surgidos do departamento amador.
As arquibancadas estavam lotadas. Torcedores de Guarabira e das cidades vizinhas, como Araçagi, Pirpirituba, Belém e Caiçara compareceram para prestigiarem o Azulão. O segundo tempo iniciou e o Botafogo voltou a perder inúmeras oportunidades de gol. O nosso goleador era o veterano e craque “Chico Matemático”, que havia cabeceado uma bola na trave e chutado outra no travessão.
O tempo não perdoava, passava, a bola não entrava, a torcida se desesperava, pois o Belo tinha que vencer. Aquele empate deixava o clube fora do quadrangular decisivo. Era tudo que os times de Campina Grande queriam.
Já desesperado e com a vontade de marcar, de se classificar e salvar o seu clube, o grande ídolo “Chico Matemático” perdeu a cabeça e fez uma falta, desnecessária e desleal em um jogador do Guarabira.
O Juiz marcou. A torcida xingou, gritou, chamou o artilheiro de fdp. O juiz consultou o bandeirinha e decidiu que tinha que repreender o atacante, como forma de evitar tumultos e acalmar a torcida do time da casa.
O relógio já marcava 39 minutos do segundo tempo. Jogo parado. Nervos à flor da pele. O juiz afastou todos os jogadores da área, tantos do Botafogo como do Guarabira. Determinou que Chico Matemático colocasse os braços para trás, o que foi de pronto atendido. O árbitro, que possuía quase dois metros de altura, sacou o cartão amarelo do bolso e passou a mostrar para todo mundo ver. A torcida ficou em pé, aplaudiu, gritou, jogou laranjas no banco do Botafogo, foi um êxtase total.
Todavia, enquanto mostrava o cartão amarelo para o artilheiro, o juiz, que era torcedor do Botafogo desde criancinha, aproveitou que não tinha ninguém ali perto e disse: Chico, cai na área que eu marco pênalti, a gente não pode empatar esse jogo!
E aos quarenta e três minutos finais, Serginho cruza uma bola na área do Azulão do Brejo, Chico Matemático finge que sobe para cabecear, de propósito se choca com o zagueiro e o goleiro, e cai espalhafatosamente na pequena área; o árbitro de imediato e sem “nenhuma dúvida” marca pênalti, mesmo com os protestos gerais. O nosso artilheiro, como sempre, correu, bateu e balançou as redes.
Belo 1 x 0 Guarabira.
