Metodologia de revisão em vídeo, em que técnicos podem solicitar checagem de lances, será utilizada pela primeira vez em uma competição nacional após convite da FIFA
A paraibana Ruthianna Camila (fotos) é uma das participantes do evento
A CBF fará a partir das quartas de final da Copa do Brasil Feminina a utilização experimental do “Football Video Support” (FVS), metodologia de revisão em vídeo em que os técnicos das equipes podem pedir aos árbitros a checagem de lances. A iniciativa da FIFA pelos testes com o FVS faz parte de um planejamento para avaliar a implantação desta metodologia em outras competições.

Esta será a primeira utilização do FVS por uma associação nacional – antes a metodologia foi testada pela FIFA nos Mundiais Femininos das categorias Sub-17 e Sub-20. Em busca de amostragem, é necessária a utilização em dez partidas. Por isso as partidas da Copa do Brasil Feminina terão o FVS a partir das quartas de final até a decisão da competição. Para completar o número, a CBF convidou a Federação Paulista de Futebol a integrar os testes, utilizando o FVS na Copa Paulista de Futebol.
O convite para esta ação pioneira provocou uma mobilização na Comissão de Arbitragem da CBF (CA-CBF), que convocou as 17 árbitras e assistentes que podem apitar os jogos da Copa do Brasil Feminina, que terão FVS a partir das quartas de final. O sorteio que definirá as partidas será nesta sexta-feira (19), às 11 horas, na sede da CBF.
Durante a semana, elas passaram por um treinamento específico, no Clube da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, com instrutores FIFA, participando de modo remoto, e da CA-CBF in loco. As atividades foram teóricas, com as especificidades do novo modelo, e práticas, com jogos para simulação da dinâmica a ser implementada.
CBF aplicou o treinamento para 17 árbitras que atuarão na Copa do Brasil Feminina. Competição terá FVS a partir das quartas de finalCréditos: Rafael Ribeiro / CBF
No FVS, o responsável por solicitar a checagem dos lances será o técnico de cada equipe, sinalizando a partir de um giro com o dedo indicador e entregando um cartão de desafio ao quarto árbitro. Entre as semelhanças com o VAR (Video Assistant Referee), estão a natureza dos lances que podem ser checados: gols, decisões de pênalti, punições de cartão vermelho e equívocos de identidade de jogadores. Incidentes que fujam deste escopo não podem ser revistos a pedido dos técnicos.
Porém, no FVS, diferente do VAR, não há um oficial da partida acompanhando o jogo em vídeo nas cabines VOR (Vídeo Office Room); em vez dos árbitros de vídeo chamarem o árbitro central para revisão, as equipes podem contestar as decisões a partir dos lances que considerem equivocados; o árbitro central analisa o lance em vídeo sem auxílio de árbitro de vídeo, apenas com o replay do lance sendo exibido no monitor de campo em todos os ângulos disponíveis (na cabine ARA).
No FVS, a revisão dos lances é feita diretamente no monitor instalado à beira do campo após solicitação de um dos técnicosCréditos: Rafael Ribeiro / CBF
“Uma vez cedido aos treinadores, às equipes, o direito de solicitar esta checagem, nós passamos a analisar tecnicamente com a propriedade, conhecimento, experiência que o árbitro tem, e a partir daí a sua decisão passa a ser até mais respeitada, que é o que a CBF espera no final: a lisura do futebol”, explicou Rodrigo Cintra, presidente da CA-CBF, confirmando ainda que os treinadores das equipes classificadas para as quartas de final da Copa do Brasil Feminina também passaram pelo treinamento para entender o sistema.
Dinâmicas
No FVS, na ausência do aparato do VAR, a figura do quarto-árbitro ganha funções na partida. Além de controle da partida de modo geral, atenção às áreas técnicas e substituições, o suporte aos equipamentos de vídeo ficam com o quatro-árbitro, que deve checar o lance completo de ataque em caso de gol; checar situações de dúvidas se a bola entrou ou não no gol; se comunicar com os treinadores; alertar o árbitro sobre um pedido de checagem; identificar corretamente um incidente a ser checado; gerenciar os cartões de checagem entregues; dar suporte ao árbitro durante a revisão; checar todas as cobranças em disputas de pênaltis; e abrir e fechar microfones para anúncios.
No FVS, quarto-árbitro ganha funções adicionaisCréditos: Rafael Ribeiro / CBF
No decorrer do treinamento, a árbitra Jenifer Alves, do quadro da CBF, alternou entre as funções de árbitra central e quarta-árbitra, acostumando-se às novas atribuições. “Agora tem várias situações de jogo que você tem que estar atento, não só aos bancos. Você tem que estar antenado, sentir o que o banco pede, compreender as situações protocolares onde a gente pode entrar e que a gente pode permitir ou não, e até mesmo as situações que o time tenta ludibriar a arbitragem. É muito importante estar bem afiada com as regras do jogo”, disse ela.
Em um dos momentos do jogo do treinamento, ela recebeu um cartão do árbitro solicitando a revisão de um lance de expulsão. “O técnico alegou que houve um contato desproporcional onde atinge o rosto do atleta e na revisão eu analiso as imagens e vejo que é uma disputa normal de jogo, onde dois atletas disputam espaço, e tem a ampliação do braço. É natural para quem joga futebol ter esse contato do jogo. Então, volto com a minha decisão para não cartão vermelho”, descreveu.
Quem fez o sinal com o dedo e em seguida entregou a Jenifer o cartão para revisão foi o técnico Bruno Peixe, que vê com entusiasmo a implantação de um sistema que já está consagrado em esportes como voleibol e tênis, citando benefícios que acredita terem potencial de extrapolar as quatro linhas.
Para solicitar revisão de um lance, técnico entrega o cartão à quarta-árbitraCréditos: Rafael Ribeiro / CBF
“A experiência foi muito produtiva, porque entra em um caráter até educativo. É preciso ser honesto, e se não for você perde o teu cartão em caso de você pedir uma revisão não adequada. Então, você precisa ter certeza do que está pedindo. Isso passa pelos atletas também, que tem o direito de nos pedir para revisar, então, a gente já deixa bem claro para eles que tenham certeza no que eles estão pedindo. Acredito que vai nos ajudar também como sociedade”, disse.
No ano passado, durante o Mundial Feminino Sub-17 disputado na República Dominicana, a árbitra Daiane Muniz teve o primeiro contato com o FVS, testado na competição juvenil. Com a iminência de testes na Copa do Brasil Feminina, ela reforçou a impressão que teve no exterior.
“Acredito que agora haverá a necessidade de as equipes entenderem mais da regra do jogo, do protocolo, porque isso vai precisar acontecer de maneira conjunta. Eles terão mais autonomia para questionar alguma decisão nossa. Nós, como árbitras, viremos rever o lance, como acontece com o VAR, e tomar a melhor decisão para o jogo. Mas isso vai ter isso vai ter um limite: duas situações que terão o direito de pedir essa revisão. Ou seja, eles também vão precisar pensar nisso. Porque se já houver terminado esses dois pedidos, tudo que acontecer depois, se a árbitra cometer um erro, esse erro vai continuar, ele não vai poder ser corrigido”, refletiu.
