Superação. Essa vem sendo a palavra de ordem na vida do jovem ala-armador da Seleção Brasileira Sub-15, Danilo Araújo Sena Santos, campeão invicto do 26º Campeonato Sul-Americano e um dos responsáveis pela conquista da vaga nacional na Copa América Sub-16, em 2015. O primeiro baque na vida pessoal do jogador aconteceu aos 11 anos, com a perda do pai. Mas as dificuldades não pararam por aí. No ano seguinte, o atleta precisou realizar uma cirurgia por conta de um tumor ósseo na perna e interromper todas as atividades físicas.
A motivação de voltar às quadras foi mais forte e os quatro meses de recuperação pós-cirúrgica foram resumidos em dois. Hoje aos 15 anos, o ala-armador já foi cerca de quarenta vezes medalhista e soma vinte conquistas individuais.
“No início foi bem difícil. Procuro não pensar muito no que aconteceu. Sou muito focado e só tenho pensado em treinar. Quando não estou jogando, estou estudando. É assim que venho levando a vida. Recebi a notícia necessidade da cirurgia depois de um jogo. O médico me deu duas opções: fazer a cirurgia ou parar de jogar. Não tive dúvida e marcamos a cirurgia. Na época, meu irmão também precisou realizar uma cirurgia de hérnia de disco e fizemos a fisioterapia juntos. Fomos parceiros e deu certo. O médico disse que em quatro meses poderia voltar a praticar esportes, mas focamos tanto que em dois meses já estava com a bola na quadra”, relembrou Danilo.
Em agosto deste ano, Danilo foi o cestinha do Campeonato Brasileiro Sub-15 da 1ª Divisão, realizado em Poços de Caldas (MG), com 196 pontos em seis jogos. Observador na competição, o treinador Cristiano Gramma convocou o jogador para a Seleção Brasileira Sub-15. O ala-armador conquistou a vaga e foi para a Venezuela defender o Brasil em sua primeira competição internacional com a camisa verde-amarela. Com todos esses acontecimentos, Danilo se transformou em uma das promessas do basquete nacional.
“Quando chegamos no Brasileiro estávamos desacreditados. A responsabilidade era alta e o nosso objetivo era não cair para a 2ª Divisão. O Marcão [Marco Carvalho, técnico do DF] falou que teríamos que correr, pois éramos um time muito baixo, para transformar isso em agilidade. Já conhecia o Gramma do Brasileiro 2013, em Joinville (SC), onde também ficamos na terceira posição e recebi o título de melhor jogador. É sempre bom ser reconhecido pelo trabalho e dedicação”, explicou o jogador do Lance Livre (DF).
Desde 2006, a Seleção Brasileira não garantia o primeiro lugar no Sul-Americano Sub-15. Na reconquista da hegemonia, Danilo ganhou a vaga na Seleção Ideal da competição como o melhor ala e ainda obteve o melhor aproveitamento em lances livres, somando 24 em cinco jogos, o que lhe rendeu mais um troféu.
“Foi um resultado fantástico. Há bastante tempo não ganhávamos nessa categoria. O Cristiano [Gramma, treinador] conversava bastante com a gente e falava que íamos atrás da classificação, depois pensar no título. E foi assim mesmo que aconteceu. É uma sensação muito boa poder defender o seu país. É um sonho realizado. Eu sempre treinava pensando nesse momento”, destacou.
De malas prontas, Danilo embarcou para mais um desafio. O jogador está defendendo o Colégio Santa Dorotéia (DF) nos Jogos Escolares da Juventude, organizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em João Pessoa (PB). Um dos principais objetivos do evento é a descoberta de novos talentos olímpicos do país.
“Desde que voltei do Sul-Americano só pude participar de dois treinos. Mas vi como a equipe está bem entrosada. Vamos brigar pelo título. Não fico pensando nos técnicos que estarão lá nos observando. O foco é só, ajudar o meu time. O resto é consequência. Na hora do jogo é o momento de só jogar”, pontuou o brasiliense.
O atleta se tornou muito jovem um jogador de basquete por influência do irmão mais velho, Breno Sena, que atuou no Brasília (DF) e no Sport Recife (PE). Danilo deu suas primeiras quicadas na escolinha Lance Livre Esportes (DF), aonde atua até hoje.
“Comecei a jogar por causa do meu irmão. A nossa diferença de idade é de seis anos, então quando ele tinha cerca de doze anos queria ficar jogando com ele. Foi aí que meu pai resolveu me colocar na escolinha. Sempre joguei no Lance Livre (DF), lá os treinos são diários e na hora de jogar enfrentamos as categorias acima, com o objetivo de evoluirmos mais rápido. Eu gosto bastante”, contou.
Mas para dar sorte, Danilo assume que é supersticioso e conta um ritual que garante que dá certo. “Eu tenho a mania de sempre jogar com a meia da final. Dá certo! No ano passado ganhamos todos os jogos usando a mesma meia. Não faz mal dar uma mãozinha para a sorte”, contou, entre risos.
O brasiliense garante que nenhuma de suas conquistas foi fácil. O atleta, de 15 anos e 1,92m, dá duro nos treinos no Lance Livre, mas o seu diferencial vem da preparação em uma quadra adaptada no pátio de casa.
“Acho que o diferencial não é aquela uma hora de treino no clube, pois se todos treinarem da mesma forma ficam iguais. Depois do treinamento, quando chego em casa, sigo a preparação por cerca de duas horas. Treino bastante lance livre, que é um dos fundamentos que sou melhor. O meu técnico sempre diz que não posso errar lance livre, então sou focado nisso. Procuro sempre praticar em casa o que eles passaram no treino para se tornar uma coisa natural para mim”.
Mas como qualquer jovem jogador o seu sonho é chegar na NBA. “Eu não sei o que vai acontecer no futuro, mas sonho em jogar na NBA. E vou atrás disso. Assisto sempre que tenho tempo os jogos da temporada da liga americana e tento me espelhar no LeBron James e, principalmente, no James Harden. Fico louco na frente da TV tentando ver como eles fazem aquelas jogadas fantásticas”.
Danilo não vem recebendo só troféus de destaque, mas também várias propostas de grandes clubes nacionais para integrar as categorias de base.
“Estou conversando diariamente com a minha família sobre o assunto. Não tem nada certo, mas já recebi propostas de alguns clubes. Vou continuar aonde estou até o fim do ano letivo, depois quem sabe. Não quero aceitar qualquer proposta, quero ver como serão as questões de estudo, estrutura do clube, hospedagem e transporte. Não penso ainda na questão financeira. Quero aprender em um clube que me dê uma boa estrutura, mas sem deixar de lado os meus estudos”.
A timidez de Danilo aparece quando é hora de falar do assédio das fãs. Mas a fã número um já possui um lugar cativo. Essa vaga é de sua mãe, Cátia Sena.
“É maravilho ter sempre ela ao meu lado. Ela procura ir a todas as viagens e isso me ajuda bastante. Na hora de autógrafos e tirar fotos com os fãs do basquete brasileiro, procuro imitar os profissionais e dar bastante atenção a todos. É novo e sensacional. É outro mundo”, finalizou.
