Federação Internacional de Atletismo tem difícil missão - SóEsporte
Futebol

Federação Internacional de Atletismo tem difícil missão

A recente decisão da IAAF de manter suspensa a Federação Russa de Atletismo e consequentemente afastar os atletas de competir os Jogos Olímpicos tem sido aplaudida pelos órgãos internacionais de combate ao doping e extremamente criticada por atletas que, supostamente, poderiam estar limpos.

Essa de fato é uma situação complexa e delicada, mas baseada em muitas evidências de que a Rússia tem sérios problemas técnicos com as questões que envolvem o doping, sem falar no incentivo, praticamente geral, dentro do próprio país ao uso de substâncias proibidas para fins de melhora de performance esportiva.

Com certeza, uma decisão como a tomada pela IAAF muda completamente o rumo do esporte. Pioneira diante das circunstâncias, a Federação Internacional de Atletismo ao decidir banir de forma generalizada o atletismo russo de participar de competições internacionais, incluindo os Jogos Olímpicos, por certo tem demonstrado uma coragem ímpar no modo de se fazer as coisas.

Mas, se é pra limpar o esporte com a política de tolerância zero, que seja então por meio da quebra de antigos paradigmas. Tenho dito. Por certo teremos novas Olimpíadas.

Isso porque basta que tenhamos um precedente para que, em cadeia, tenhamos novas baixas olímpicas, e não apenas em relação à Rússia, nem ao Atletismo. As reanálises estão acontecendo; ainda teremos muitos resultados positivos para debater.

A Rússia por certo tem uma situação muito específica. A participação do governo e a política instituída internamente tornam o contexto extremamente desfavorável ao país e aos atletas ali alocados.

A decisão respinga sim em possíveis atletas limpos. Mas como ter essa certeza? Diante de um país que acabou por desenvolver durante décadas uma cultura de inserção das drogas no esporte como se tal fosse de uma naturalidade absurda, como então dizer que os próprios atletas, que cresceram nesse ambiente, não sofreram qualquer tipo de influência ou mesmo não tiveram, em algum momento, necessário aos objetivos dos envolvidos, uma amostra adulterada para que o resultado não pudesse ser positivo?

Infelizmente, talvez essa seja, de fato, uma resposta que jamais vamos ter. Acontece que as decisões têm que ser tomadas, e muitas vezes as urgências não podem aguardar eternamente a descoberta de novas evidências já que o esporte precisa caminhar.

Justo? Nem sempre. Mas diante de um contexto como o que se apresenta, e diante da inércia dos atletas que conviveram durante anos com essa realidade sem sequer tomar quaisquer providências, por certo agora a prova terá que ser dos mesmos. Isso porque, um dia a vida nos cobra certas responsabilidades e, se fomos omissos em determinadas ocasiões, como talvez tenha sido o caso, cabe agora correr atrás de minimizar as consequências. Impossível? Creio que não. Mas vai dar trabalho.

Aqui me vem à mente um velho ditado: “Diga-me com quem andas que eu te direi quem és”. Não dá para generalizar a situação, mas, obviamente, atletas que permaneceram durante anos dentro de um sistema como o que vem sendo desvendado nos últimos meses, têm em si uma parcela de responsabilidade, seja porque deixaram de lutar pelas novas gerações, seja porque entenderam que apenas seu bom exemplo poderia fazer a diferença. Todos eles, no fim, tomaram uma decisão: falar ou calar. Talvez o que tenha faltado foi um pouco mais de conhecimento de tudo que poderia vir a acontecer para que melhores decisões pudessem ser tomadas. E agora, vêm as consequências de tudo isso.

Enfim, tudo nos deixa triste diante das adversidades que eventuais atletas limpos poderão e deverão enfrentar, mas nos deixa também a lição de que, nos dias de hoje, não podemos simplesmente ignorar o contexto em que vivemos. Só assim teremos uma visão mais coletiva do que é bom, justo e correto seja no esporte, seja na própria vida.

*Fernanda Bazanelli Bini é Diretora da Doping and Fair Play Consulting, Sócia-Administradora do BINI Advogados, Especialista em Direito Desportivo, ex-atleta, docente em Direito Desportivo e ex-integrante de diversos tribunais desportivos no país.

Clique para comentar

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.