Assim Falou Neném Prancha, o Filósofo do Futebol Brasileiro:
“Jogue a bola para cima, pois enquanto ela estiver no céu, não tem perigo de gol”
A gente vai andando pelo calçadão da Avenida Atlântica, Rio de Janeiro, assim como quem não quer nada. Quando chega ali na altura da Rua Constante Ramos; mais pra lá do que pra cá, há de encontrar um bando de garotos correndo atrás de uma bola. Um dos times veste uma camisa alvinegra. É o time do Botafogo, da Divisão de Amadores da Federação Carioca de Futebol de Praia.
Alguém está em pé, ali no calçadão, calça e camisa. Uma boina para espantar o sol. Um senhor moreno, parrudo, sisudo. Falando sem parar para os meninos de camisa alvinegra.
– Vai, vai nele… Cruza pro gaúcho. Não, não volte não. Fique aí mesmo… Bem aberto. Pode ficar na banheira que o juiz não vê nada.
Nisso, acertam uma pelintrocada na ponta esquerda do Botafogo, um garoto que está pintando. O garoto se levanta e em lugar de prestar atenção no jogo, fica de papo com o cara que o cara que o sarrafiou.
Aí o velho treinador, abre os pulmões e berra:
– Ei, gaúcho, deixa de conversa… Você veio aqui foi pra jogar futebol ou para conversar com esse menino?
E continua dando bronca:
– Pra trás não meu filho… O jogo é pra lá, lá pra o gol da turma do Geraldo… Você tem que fazer o que eu mando… Cuidado com essas bolas enfiadas pelo Geraldo. E, explica pros amigos que estão ao seu lado: – Esse Geraldo é um cão. Reparem como ele manda bolas altas em cima da becansa. Se os meninos bobearem ele acerta uma que irá dar bolo…
O homem que grita com os meninos é o Senhor Antonio Franco de Oliveira. O famoso Neném Prancha, que Saldanha imortalizou em suas crônicas e a quem Armando Nogueira chama de “Filósofo do Futebol”. Por suas mãos passaram quatro gerações de meninos das praias de Copacabana. Quatro deles já chegaram a governar Estados da República. Um deles está aí, com o Novo Estado do Rio, o Almirante Faria Lima. Os outros três foram Rafael de Almeida, Leon Peres e Roberto Silveira. O atual Prefeito desta Cidade Maravilhosa, passou pelas areias de Copacabana e escutou alguns sermões do Neném quando jogou diferente daquilo que o velho falou. Marcos Tamoio, forma entre os melhores dos meninos de praia que jogaram nos times do Neném Prancha. Ele está sempre ali, no mesmo local. Principalmente nas terças, quintas e sábados. Ele vive para o Futebol. De futebol, não.
Pois o que ele ganha como funcionário do Botafogo, junta com as contribuições dos amigos para fazer o Botafogo de Praia brilhar nas competições de que participa.
Quer ver o Neném ficar zangado, é um jogador de ele começar a jogar bola para trás. O velho fica alucinado. Berra e é capaz de mandar o cara sair de campo.
Neném deu muitos jogadores ao futebol carioca, mas vale a pena falar em três deles. Um, foi o grande Heleno de Freitas. Outro foi Haroldo, um beque que jogou no Botafogo e no Vasco, e o outro, esse não saiu da praia, foi Carlinhos, aquele magricela do Flamengo.
O Macaé conta que o Cao apareceu na praia querendo bater uma de atacante e que o Neném, olhando para as mãos do rapaz, sentenciou: você vai, mas é jogar no gol. E foi um grande goleiro do Botafogo.
Neném nasceu em 1906 lá no pé das Agulhas Negras, em Rezende.
No time de Neném jogaram o Sergio Porto, o inesquecível Stanislaw Ponte Preta, Saldanha, heleno de Freitas, o galã e muita gente boa.
Neném entende de futebol de campo e de praia. Se joga de uma maneira na praia e de outra na grama. Passinho curto aqui não resolve, a areia trava a bola, passa com força e lá para longe. Uma mágoa do Botafogo, ele viu Junior Paraíba e levou para General Severiano. O rapaz foi experimentado. Depois lhe disseram que igual aquele havia uns quatro lá no Botafogo.
Pitombo, um goleiro que, sem ver de que, ajoelhava-se para pegar a bola. Neném chamou o que estava no banco e disse: Vai no lugar de Pitombo e diz que lugar de se ajoelhar é na Igreja.
Neném conta que um jogador foi procurar brecha no Botafogo.
Tim atendeu ao candidato.
– Eu não fumo seu Tim, não bebo, não jogo cartas…
O Tim não deixou o cara continuar:
– Quer dizer, meu filho, que você está querendo aprender isso tudo aqui no Botafogo.
“O futebol é simples; o difícil é querer jogar bonito.”
“Jogador é o Didi, ele joga bola como quem chupa laranja.”
Dicionário do Futebol Brasileiro
Centeralfe– Do inglês Center Half, médio volante.
Centerfor– Do inglês Center Forward, centroavante.
Central– Zagueiro de área.
Centrar– Cruzar pelo alto a bola de um lateral.
Centroavante– Jogador que atua pelo centro do ataque, avançado.
Centromédio– Médio volante, cabeça de área.
Eduardo Pimentel
Técnico de Futebol