Deu certo. Atingiu-se o tão procurado equilíbrio – essencial para o sucesso nas equipes – ou seja, atacar e defender com a máxima eficiência, segundo o mestre Sepp Herberger.
Liderança com base em respeito
Na seleção é sempre Parreira o líder fora do campo. E não é uma liderança imposta apenas pelo cargo.
Quando você assume uma grande equipe como uma seleção nacional ou times do porte de Fluminense, Flamengo, Corinthians, é muito importante a autoridade que consegue despertar na equipe. Isso vem em função do currículo e das conquistas que você já conseguiu e do conhecimento que adquiriu. O grupo conhece sua bagagem. Tendo isso as ideias que vão nortear o trabalho podem ser mais bem implementadas. Os jogadores atendem melhor ao que se pede.
Liderar é mudar comportamentos
No hotel, após essa apresentação aos atletas, anunciaram que o jantar estava servido. Parreira encaminhou-se até o local por onde os jogadores estavam entrando. Ao sentar-se à mesa, reparou que seus futuros comandados o observavam atentamente, com expressão de surpresa.
“Pensei: pronto, cometi alguma gafe, fiz algo que contraria a cultura daqui.” Imediatamente, um dirigente se aproximou e explicou: é que nunca antes um treinador se sentara à mesa para comer junto com o time. Por ser um cargo estatal os técnicos eram funcionários de estado, que só viam o time na hora do treino. Ele dizia: Eles não estão habituados a que um catedrático fique tão próximo deles.
Técnico: gestor e facilitador
Na formação de equipes é de fundamental importância a presença de um líder que, segundo James Hunter, terá como principal atribuição o desenvolvimento da capacidade de influenciar pessoas e da habilidade de inspirá-los a trabalhar em grupo a fim de atingirem um objetivo comum. É essencial que esse líder seja ele o técnico (ou coach) nos esportes ou o gestor no ambiente corporativo esteja atento as características individuais de cada componente de sua equipe. No decorrer do processo de escolha, uma série de fatores contribuirão para sua concretização:
Pessoas
Um líder precisa saber lidar com as pessoas, sejam elas atletas ou membros de uma empresa. Deve dedicar-se a desenvolver uma relação de confiança, criando um ambiente positivo de trabalho e relacionamento, buscando o melhor desempenho individual e coletivo.
Informações
No mundo globalizado atual, cada vez mais bombardeado por milhares de novas informações a toda hora, a todo minuto, somos levados a crer que a notícia recebida pela manhã já perdeu sua validade antes mesmo do início da tarde. É preciso nos manter atualizados, estudando, pesquisando, permanecendo atentos às novidades para que possamos nos posicionar alguns passos a frente da concorrência, surpreendendo e evitando que sejamos surpreendidos por ela.
Conhecimentos
Um dos maiores desafios de um líder motivador é não se ater apenas a aquisição de novos conhecimentos específicos.
Resultados
Na seleção brasileira que disputa a Copa do Mundo, as comissões técnicas chegam a 16 profissionais todos com função bem definidas e que trabalham com um só objetivo: permitir que os jogadores se concentrem única e exclusivamente em entrar em campo e fazer sua melhor atuação, pois nada deverá dispensar sua atenção.
O que dizem os gurus
Num posto em que todos gostam de dar palpites, o caminho apontado por Parreira é não querer agradar a todos.
John F. Kennedy dizia que a fórmula para o fracasso é querer agradar a todos. São equipes, não indivíduos, que vencem campeonatos.
Quando se tem apoio de quem comanda, é muito mais fácil vencer.
A conquista da Copa da Ásia de 1980, disputada no Kuwait, é uma das conquistas que Parreira lembra com mais carinho. Além da conquista pessoal, ele se emocionou com a festa do povo e dos xeques.
Parreira conta o segredo daquele grupo: O equilíbrio. O time aprendeu a jogar em conjunto, a se defender, sempre com mais jogadores atrás da linha da bola do que o adversário e jogadores no campo do adversário. Tinha essas duas virtudes, além de um grande nível técnico. E o equilíbrio fazia com que as individualidades pudessem brilhar.
Harmonia em equipe: Fator essencial para o sucesso.
Foi uma opção certíssima. Adorei a cidade, o grupo era bom. Foi um dos melhores exemplos de minha carreira de como é importante um grupo ser unido. O gostar-se leva invariavelmente a vitórias. Outra prova disso foi uma entrevista recente que vi o alemão Fritz Walter, capitão do time campeão do mundo em 1954. Ao ser perguntado sobre o segredo da vitória na final em 1954. Ao ser perguntado sobre o segredo da vitória na final em cima da poderosíssima e decantada seleção da Hungria, ele não respondeu nada sobre tática, marcação sobre o gênio Puskas. A resposta dele foi amizade. Ganhamos porque éramos amigos, porque corríamos uns pelos outros, porque queríamos que todos vencessem. Dinheiro não é fator preponderante para o sucesso.
No Bragantino, Parreira conviveu com uma realidade de perto financeiro, que o ajudaria muito em tarefas futuras como a campanha com o Fluminense.
A conquista do mundo em 1994
A copa de 1994 foi a hora mais certa da carreira de sucesso de Parreira.
O Brasil estava há 24 anos sem vencer um mundial e, sendo o país do futebol, a pressão a que a comissão técnica era submetida desde as eliminatórias, um ano antes, era quase insuportável. Tanto que, quando fomos campeões, pensei em nunca mais voltar ao cargo de técnico da seleção. Nós fomos massacrados impiedosamente pela mídia e por parte da torcida. Talvez nenhuma comissão técnica, nenhum treinador, nenhuma equipe tenha sofrido o que sofremos antes de 1994. Mas o grande mérito da comissão foi perseverar, não desistir nunca, manter-se fiel à filosofia de trabalho, acreditar no que estávamos fazendo e manter-se firme até a conquista final.
Na mesma linha de raciocínio, Zagalo comenta: Falaram muita bobagem. Disseram que aquele não era o futebol brasileiro, que só queríamos saber de futebol campeão. Além do mais, diziam que não daria certo dois treinadores, que eu não seria só coordenador, que iria me meter no trabalho do Parreira. Quem teve a ideia e bancou até o fim, apesar das pressões, foi o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. E eu sempre soube me colocar no meu lugar, e palavra final é sempre a do treinador – no caso o Parreira.
Manter-se firme não significa imobilismo ou incapacidade de mudar o que não funciona bem para que todos se beneficiem. Parreira costuma lembrar uma característica de copas do mundo. Desde a copa de 1930, a primeira só houve uma vez em que o time que começou a disputa foi o mesmo que terminou campão. Nas outras, sempre aconteceram mudanças ao longo da trajetória.
Eduardo Pimentel
Técnico de Futebol