FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA - CONDICIONAMENTO PSICOLÓGICO E MORAL I - SóEsporte
Colunistas

FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA – CONDICIONAMENTO PSICOLÓGICO E MORAL I

Muitas são as causas que influem no estado psicológico do atleta, não só no futebol como em qualquer esporte. O atleta poderá sofrer conflitos dentro do clube, pela inabilidade da direção geral ou da equipe técnica, indo extravasá-los junto à família, desinteressando-se pelos estudos etc. Por outro lado, suas horas de lazer serão entregues a condutas socialmente desvalorizadas, encontrando como fuga as orgias sexuais, o alcoolismo etc.

Poderá também acontecer o inverso. Os fatores conflitantes poderão ter origem na família, nos estudos e principalmente de ordem sexual. Daí, a responsabilidade da direção na solução de alguns problemas familiares e estudantis, e da equipe técnica, com relação às horas de lazer e comportamento sexual do jogador.

A metafísica da alma dos tempos de Aristóteles sofreu transformações profundas, tornando-se hoje, uma ciência psicológica, onde estudamos seus fenômenos, suas causas e seus efeitos sobre o atleta, uma realidade individual que bem determina a função transcendental do esporte.

A Educação Física e Esportiva, unida do equilíbrio psicossomático; a Medicina Esportiva dos problemas patológicos, traumatológicas, nutrição etc., somático e a Psicologia Esportiva dos fenômenos psíquicos. Se estas três ciências não caminharem lado a lado, ombro a ombro, o rendimento de uma equipe cairá verticalmente, jamais será alcançada. A aplicação sistematizada da psicologia no campo do esporte – afirma o professor J. Carvalhaes – bem como os estudos que se tem desenvolvido nessa área do comportamento humano, começam a marcar seus primeiros pontos na grande escala dimensional das experimentações científicas.

Sabemos que a maioria das agremiações não possui em seu quadro técnico, um psicólogo, mas isto não quer dizer que o atleta fique abandonado aos seus problemas e os resolva por si só, pois, poderá acarretar graves problemas futuros.

Na falta do psicológico, o professor ou o treinador deve aplicar seus conhecimentos de psicologia prática aprendido na sua escola de origem, nas literaturas sobre o tema e em suas próprias experiências.

Não queremos dizer que o treinador deva resolver os problemas dos fenômenos psíquicos no jogador, mas que pelo menos consiga identificá-los, saber que eles existem. Quanto a solução, caberá a um psicólogo competente.

Tentar resolver um problema psicológico do atleta – sua atitude para com o público, o jogo, o oponente, a família e os companheiros de equipe – sem conhecimento de causa, seria agravar ainda mais, tornando insustentável.

O trabalho do professor J. Carvalhaes intitulado “correlação entre o Estado Psicológico e o reconhecimento do atleta de futebol e consequente prognóstico”, apresentado no II Congresso Internacional de Psicologia do Esporte, em Washington, DC, USA, em outubro/novembro de 1968, dará ao professor, treinador e principalmente para o próprio psicólogo todos os meios para analisar o comportamento do atleta, detectar os problemas e prognósticos, sua atuação no jogo, nos treinamentos, relacionamento e conduta, sendo aqui, importante, para que melhor nos situemos ante a relevância deste aspecto, as palavras daquele eminente psicólogo ao finalizar o trabalho acima nominado: “e que constitui a meta fundamental do estudo, podemos afirmar que não só há correlação positiva entre o estado psicológico e a produção do atleta, como podemos também prognosticar, até uma margem de 10% de erro, o rendimento através da técnica por ele desenvolvida”.

O condicionamento psicológico é diretamente proporcional ao condicionamento físico, técnico, tático e moral. Se o atleta estiver bem preparado nestas quatro fases do treinamento, estará automaticamente bem sob o ponto de vista psicológico.

A afirmativa não exclui o surgimento dos problemas. Eles aparecerão e, no futebol, com abundância, porque o jogador é emocionalmente diferente dos outros atletas, eis que são agrupamentos heterogêneos, social e culturalmente, cabendo à sensibilidade do treinador a capacidade de sentir quando os conflitos estão surgindo.

É oportuno anotar, aqui, o que diz o professor J. Carvalhaes: “o exercício da atividade futebolística exige, em muito, uma boa dose de inteligência” e, a isso acrescentamos: “não só o atleta deve ter uma inteligência sagaz, mas também a equipe técnica que com ele trabalha”.

No livro de Hornell Has, “Autocondicionamento pessoal” há uma escola temperamental completando a obra, que foi aplicada, por nós com resultados excelentes quanto a existência dos problemas conflitantes. O professor poderá adquiri-lo, fazer a sua aplicação, evitando assim, por antecipação, o agravamento dos desequilíbrios emocionais.

Se o treinador puder ter a seu lado um psicólogo esportivo, não espere mais, pois ele será muito útil em uma série de informações que mudarão os horizontes turvos da equipe antes e após o jogo.

Moral– “Os maus atletas cultivam apenas o que é comum aos animais: o corpo. Em compensação, não prestam a mínima atenção àquilo que é comum aos deuses: a alma” (GALENO).

Toda formação esportiva deverá estar estruturada pela formação moral, devendo estar também intrinsecamente ligada e didaticamente proporcional à formação prática, ao condicionamento físico, técnico, tático e psicológico.

No século II a.C. já existiam os atletas moralmente doentios e Galeno, o famoso médico de Pérgamo, não deixou que eles passassem desapercebidos. Sócrates e Platão também não aceitaram a imoralidade no esporte. Quando as lutas da vida ou as lutas esportivas não são regidas pela moral, degeneram, tornam-se combates ferozes, negando a existência da vida e a realidade do esporte.

A ética esportiva estriba-se em vários conceitos: o biológico, o jurídico, o pedagógico, o cívico e o social, sendo os três últimos os que mais nos interessam na formação do atleta. Muito se tem dito que o exemplo vem de cima, ou que a equipe é o reflexo do chefe, do dirigente.

(Continua)

Eduardo Pimentel

Técnico de Futebol

Clique para comentar

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.