FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA - DOPING E VIOLÊNCIA I - SóEsporte
Colunistas

FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA – DOPING E VIOLÊNCIA I

FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA

DOPING E VIOLÊNCIA I

ERNESTO SANTOS

O tipo do depoimento verdadeiramente sensacional, este de hoje, de um dos maiores experts em futebol, o Professor Ernesto Santos. Para uma pergunta – o futebol está violento? Uma resposta que explica estes oito anos em que só fizemos regredir: “a violência que vejo é a que estão impondo a nossos jogadores. Pelé, no futebol brasileiro de hoje, seria instruído para combater, destruir, marcar, tolhendo-se a sua genialidade, criatividade, violentando-se a sua característica, levando-o até a ser um jogador viril. Um crime. Quando eu jogava, havia o Marcial, jogador mais de luta, viril, que se completava a mim, técnico”. Há um equívoco antológico, adverte o catedrático da UERJ: “não deixar jogar, à custa do valor físico, quando se deveria fazê-lo à custa do valor técnico. A força do brasileiro ainda está na técnica. Poucos se apercebem disso e o resultado é este: estão impedindo o surgimento de novos craques.” E faz a pergunta: então como é que se exige que Rivelino, Zico, Bráulio, marquem, destruam, briguem como qualquer outro, se eles só sabem fazer isso nos momentos de raiva e dando pontapé? É um crime. Existem os Mericas e os Zicos, Um time é constituído de onze jogadores. É esta a violência que vejo no futebol brasileiro. Já pensaram se exigir que Pelé e Vavá façam a mesma coisa? Ernesto Santos teve o cuidado de omitir nomes, por questão de ética.

Outros exemplos, como barrar-se um Zezé, extrema-esquerda ofensivo, artigo de luxo no futebol brasileiro e fazer Gil e Silvinho defenderem, violentando-lhes a características, obtiveram um sim do ex-observador da CBD. Quem disser que o futebol está violento, produto de muitas contusões, vai ouvir algo desagradável: “ao que me consta, a maioria são contusões de músculos. Por quê? Estão usando muito aparelho na preparação. Estão encurtando músculos, ao invés de alargá-los”. E o doping, professor? “Existe, quem tem dúvida? Já encontrei ampolas vazias após um jogo em Vitória”.


VIOLÊNCIA É O QUE FAZEM

COM O NOSSO JOGADOR

Wilson de Carvalho

– Sempre houve violência no futebol que, afinal, é um esporte para homem. Mas não a violência que possa dizer-se que o futebol é violento. O jogador de poucos recursos técnicos é obrigado a apelar. Da mesma forma, o time ruim. Só assim ele pode enfrentar o seu rival mais técnico. Existem, também, jogos violentos por motivos óbvios, tais como, muitas vezes, uma rivalidade antiga, uma má arbitragem. Existem até torneios violentos, Copas, até. Em 66, os europeus tiveram que usar desse expediente para impedir nova supremacia do futebol sul-americano, em especial, o Brasil. Foi o que chamamos de futebol-força.

Nos últimos anos, tem aumentado o número de jogadores violentos. Mas, num cômputo geral, essa transformação tem sido no sentido de um futebol mais viril.

– Resultante da ação de não deixar jogar. No meu tempo, quando a gente se chateava, dizia para o adversário: poxa, faz teu jogo e me deixa. Não havia essa ação. Hoje, quando se está de posse da bola, se joga, mas quando se perde, procura-se impedir o outro de jogar. O que é normal, pois a bola é a arma do jogo. A posse dela é uma coisa séria. O problema é que exatamente aqui, no Brasil, estão exagerando demais nessa ação de não deixar jogar.

Ernesto Santos mostra, inclusive, a origem desse tipo de ação, que está impedindo o surgimento de novos craques. Tudo começou em 66, na Copa da Inglaterra, ou, com mais precisão, pouco antes, quando os europeus já se preparavam para esse fim, ou seja, neutralizar o sul-americano, sempre muito mais habilidoso, não o deixando jogar. O Brasil, bicampeão do mundo, obviamente, foi o maior visado. Ernesto Santos viajou dois meses, antes da Copa de 66, como observador da CBD. No seu relatório, o aviso: Cuidado, Feola; eles não irão nos deixar jogar.

– Deu para sentir a marcação terrível que eles iriam nos impor, depois de assistir a alguns amistosos. Áustria x Itália, um ótimo exemplo. Os austríacos, normalmente de futebol solto, mudaram completamente. Me encontrei com Paulo Amaral e Jorge Vieira e eles também haviam notado a diferença. Na Suécia, expus tudo a Feola. Logo em seguida, alguns amistosos da Seleção Brasileira e a confirmação. O jogo contra a Escócia foi terrível. Os jogadores diziam: não dá para jogar. Eles não deixam. Daí para cá se deu ênfase: jogar e não deixar jogar. Fora o meio de compensar a inferioridade técnica. Voltamos de imediato. Não havia condição de jogar.

– No meu tempo, se dizia que só o beque batia. Hoje, até o atacante bate. A luta passou a começar na área do adversário, onde os atacantes têm a obrigação de combater os beques nas saídas de bola. Antes, só se lutava dentro da própria área.

Os europeus não se conformavam com a nossa superioridade. Sem poder exercer uma luta técnica de igual para igual, que fizeram eles? Chegaram à própria violência, e Pelé é o símbolo disso tudo, pois foi tirado da Copa através da maior força física e do exagero da ação de não deixar jogar.

– Em 66, foi exatamente que começou isso que hoje nos prejudica seriamente. No meu tempo, os times só lutavam. E só eram mais viris quando havia perigo de gol. Hoje, os técnicos dizem que o atacante tem que tomar a bola do beque, chegando alguns jogadores a pelar para a violência, pois uma bola ganha na frente da área adversária é meio gol.

Eduardo Pimentel

Técnico de Futebol

2 Comentários

2 Comentários

    Deixe um Comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.