FRIEDENREICH EL TIGRE, O PRIMEIRO REI DO FUTEBOL
Charles Miller, um paulista do Brás, mas filho de ingleses, jeito de inglês, hábitos de inglês e até sotaque de inglês, foi o introdutor do futebol entre nós. Por volta de 1884 segundo reportagem há muito publicada no Times of Brazil, trouxe consigo uniforme completo e duas bolas, ele organizou alguns treinos na Várzea do Carmo. Charles Miller foi um deles, criador de uma jogada que, em sua homenagem, ganhou o nome de Charles.
Certo é que, se há imortais no futebol, Artur Friedenreich é um deles. Seu Oscar Friedenreich alemão casado com uma morena brasileira, ele era comerciante próspero. Matilde e seu Oscar eram seus pais. Artur Friedenreich nasceu a 18 de julho de 1892, meio claro, meio escuro, mas paulistano dos pés a cabeça. No Bairro da Luz, aprendeu a jogar bola, a fazer bola de meia, a correr atrás de uma bola de couro. Aos 12 anos, no de gente grande já atuava pelo primeiro time do São Paulo, que nada tinha a ver com o antigo São Paulo Athlético Clube e muito menos com o atual clube do Morumbi. Durante uma temporada inteira Friedenreich fez força para ser um ponta esquerda, então um médio-esquerda estrompa, um centroavante tronchudo, um jogador de peito largo como os alemães gostavam. O Ipiranga foi de fato o início da grande carreira que estava destinada a Artur Friedenreich, rapaz muito magro, alto, moreno, com qualquer coisa que lembrava um cigano, os olhos claros e vivos, as pernas finas, o andar aparentemente preguiçoso, o ídolo da torcida do Ipiranga, muito conhecido por Fried. O centro do ataque. Em 1912 foi pela primeira vez artilheiro do Paulista. Num jogo contra o Colônia Britânica. Perdeu dois dentes, mesmo assim deixou o campo sorrindo, um sorriso doloroso e feliz da vida. Brasil 2 x 0 Colônia Britânica.
Outras seleções brasileiras foram organizadas para ser disputada em Buenos Aires, entre Brasil e Argentina. Conseguimos nossa primeira vitória no exterior, já no Campeonato Sul-Americano em 1916, em Buenos Aires não tivemos sorte: um empate com os argentinos, outro com os chilenos e uma derrota para os uruguaios.
O sucesso deste foi tal que 1914 a colônia de São Paulo uniu-se em peso e fundou o Palestra Itália, hoje Palmeiras. Em 1915, após ser artilheiro, com a fama uma infinidade de clubes de São Paulo e Rio se interessa-se por ele, os convites se repetindo com frequência, ora para um jogo ou para uma transferência. Fried ocupando todos os anos o posot de honra dos artilheiros paulistas sagrando-se tetracampeão em 1919. Foi justamente nesse ano que o Brasil elegeu Artur Friedenreich o seu jogador número um, o primeiro rei do seu futebol, craque insuperável, ídolo, mas um goleador imortal.
Brasil campeão sul-americano contra o Uruguai. Fried no lugar certo, a curta distância da meia lua, de voleio e mandá-la no canto, fora do alcance de Saporiti. É que todos, jogadores e torcedores abriam os braços para um só abraço, as bocas para um só grito, o coração para uma só alegria. O Brasil, se bem que ainda faltassem 27 minutos para o fim do jogo, 27 minutos de vagarosa tortura, era Campeão Sul-Americano. Fried estranharia sempre terem feito dele o herói:
– Herói, de verdade, é o Neco, que pôs açúcar naquela bola.
Os uruguaios pensavam diferente. Os jornalistas que vieram de Montevideu – “ni la fatiga lo vence”. Deram ao ídolo brasileiro um apelido que poderia parecer estranho a quem o conhecesse fora do campo, manso, inofensivo, mas que bem o definia com a bola nos pés – El Tigre. Em 1922 Fried contundiu-se seriamente contra o Chile. Fried cuidou-se sozinho. Em entrevista ao Correio da Manhã, queixou-se da CBD pelo pouco caso, ele foi afastado definitivamente da Seleção.
O jornalista argentino Borocoto quem disse que ele é “el namorado de la America” e sua fama corria o mundo. O paulistano, primeira representação brasileira a cruzar o Atlântico. Saiu de Santos a 10 de fevereiro de 1925, a bordo do Zeelandia,, chegou a Paris em março. Durante a viagem, segundo o Diário de Arakén Patusca, mais tarde publicado no livro Os Reis do Futebol. Seleção da França, a 15 de março, no campo do Buffalo, e o Paulistano venceu por sete a dois, cabendo ao Friedenreich marcar três gols. As vitórias seguintes sobre o Stade Français, 3 x 1 e o Bastidenne, 4 x 0 e Havre 5 x 1, e o Strasburgo por 2 x 1 e o Rouseu 3 x 2, o Berna 2 x 0, o Young-Fellows-Grosshoppers 1 x 0 os três últimos na Suíça, constituem a primeira grande campanha de uma equipe brasileira na Europa. A única derrota na terceira partida, foi para o Cette 1 x 0, apenas. Fried falou a neve nos derrotou. Fried foi o artilheiro com 11 gols. Agora quero todos na cama antes das 11:00h. Em Paris, pode-se fazer de dia o que se faz à noite.
Os europeus haviam achado de Fried e seus companheiros: “Les sois du footbol” afirmara Le Journal. Le Sporting disse: Fried, ele podia enfrentar as melhores defesas do continente sozinho. O time do Brasil foi recebido com muita festa em Salvador, Recife, Rio e Santos. Artur Bernardes recebeu todos os jogadores em audiência especial.
Centenas e centenas de automóveis organizados pela Associação dos Cronistas. No dia seguinte, corria por São Paulo uma quadrinha de Dom Quixote:
“ O time vem nos arrancar
O jogo vem pelo centro
El tique, fugindo aos trancos
Sapeca a bola pra dentro”
“Do futebol, nas intrincadas malhas, és rei, segundo a fama te corteja, pois não existe jogador que seja superior a ti, que arrojo espalhas.”
Há estudos sérios feitos sobre Artur Friedenreich como o do jornalista Adriano Neiva da Mota e Silva.
Sete vezes campeão paulista, quatro vezes campeão brasileiro, duas vezes campeão Sul-Americano, dezessete vezes campeão de diferentes torneios regionais nacionais ou internacionais; onze vezes artilheiro de campeonatos brasileiros, duas vezes de campeonatos sul-americanos, artilheiro do Paulistano na Europa, nove vezes artilheiro dos campeonatos paulistas.
Nenhum outro jogador no futebol Sul-Americano alcançou, até hoje, o número de gols por ele conquistados desde sua primeira partida oficial: Mil trezentos e vinte e nove gols registrados pela CBD, reconhecidos pela FIFA e admirados por várias gerações do futebol.
Sim, era Friedenreich, “El Tigre”, o primeiro rei do nosso futebol, deus dos velhos estádios, pioneiro, ídolo de muitas gerações homens e fábula, menino nascido na esquina das ruas vitórias e do Triunfo. Era como se estivessem vendo Pelé daqui a muitos anos.
BIBLIOGRAFIA
Gigantes do Futebol Brasileiro
a.a. Marcos de Castro e João Máximo. Ed. Lidador.
Dicionário do Futebol Brasileiro.
Carregador de piano– Jogador muito esforçado, que durante o jogo corre o tempo todo executando tarefas árduas.
Carregar– Atacar, investir.
Carregar o time– Ser o seu melhor jogador ou pelo menos, aquele de quem dependem a vitória.
Carrinho– Forma de desarmar o adversário e de atingir a bola na qual o jogador se atira ao solo e desliza como se estivesse sentado ou parcialmente deitado sobre uma prancha provida de rodas.
Cartão – Retângulo de cartão colorido que o juiz exibe ao jogador e que, pela cor, indica um tipo de punição: amarelo, de advertência e vermelho, de expulsão.