Um clube de 21.000 sócios não pode ser pequeno. Ou tão pequeno quanto o Bonsucesso parecia ser. Mas é coisa do passado. O time está aí, bom de bola, de craques, numa de fantasma.
Dinheiro não falta, o clube tem 700.000 cruzeiros depositados num banco a disposição do departamento de futebol. Organização também não: o departamento tem seus gastos devidamente programados até agosto, a programação só v ai para o vinagre se acontecer uma alegria tamanha, qualquer coisa assim como o título de campeão carioca. O clube conseguiu armar um bom time: com a prata da casa e alguma compra de experientes atacantes. Um bom preço, muito se manteve invicto em seus três primeiros jogos do campeonato, quer dizer: o Bonsucesso está com tudo e não está prosa ou não prosa: seu mais ferrenho rival, o Olaria, perdeu os três primeiros. De uma hora para outra o simpático objetivo usado para times que não incomodam – Bonsuça resolve acordar de sua condição de time pequeno. Por quê? Para que? Por que o Bonsucesso é o mais novo clube de olho numa vaga no Campeonato Brasileiro. Vaga que o Bonsucesso chegou a sonhar como certa. Vaga que agora parece distante. E pela qual o clube não parece lutar pelo menos no tapete da antiga CBD.
Os convites são e continuarão a serem políticos. Eu jamais farei pedido a CBD. Ela tem obrigação de observar os clubes, como observou o Guarani. Falo de futebol, de time, não de clube ou patrimônio. Paulo Ribeiro, diretor de futebol.
Um homem bastante experiente, que exerceu as mesmas funções nos anos 72 e 73. Tal experiência que já não acalenta muitos sonhos quanto ao Brasileiro.
Por que convidar o América de Campos? Por que? É um convite político. O Americano entra no lugar do Olaria. E que vai mostrar contra os clubes dos centros maiores? Vamos trabalhar sério. Talvez a CBD entenda nosso propósito.
UM PAPO SÉRIO
Muitas vezes bons propósitos dão em nada. Não parece que seja isso que acontece com o Bonsucesso. Pelo menos nesse começo de Campeonato Carioca. Tudo resultado de um trabalho sério. Que começam com o clube organizando perfeitamente os vários setores do departamento de futebol: rouparia, enfermaria, concentração etc. Que tomou embalo quando os dirigentes decidiram que o departamento de futebol seria autônomo.
Do meio de campo para trás o Bonsucesso tem bons jogadores a dois ou três anos. Problema mesmo era o ataque. Chegou a vez do Técnico Velha. Ele pediu um lateral direito: foi contratado Miguel. O time necessitava também de um goleiro: acertou com Valdir, ex-vascaíno. Difícil mesmo foi armar um ataque. Um ataque inteiro. Mas o Bonsuça, num golpe de sorte, conseguiu alguns bons jogadores que estavam dando sopa, Samarone e Adãozinho, ex-rubro-negros, Marco Antonio e Michey ex-tricolores. Com Nildo e Nilson, excelente dupla de área, que o Corinthians namora de olho gordo e o Botafogo está cansado de querer comprar a perder de vista e dois homens de meio campo que garantem o setor, Cabral e Silva, o time estava formado.
Aí surgiu um problema: como motivar os jogadores para uma campanha a altura das ambições dos clubes? Ficou resolvido que o time seria levado no papo. Na base de muita conversa. Dentro de três assuntos: camisa, torcida e juízes. Paulo Ribeiro explicou que: a) o Bonsucesso tem 22.000 sócios e só dependeria do time jogar bem, para que fossem só a campo torcer; b) os juízes erram sempre contra os pequenos, mas que o Bonsucesso não era pequeno e por isso, os jogadores não deviam ficar preocupados com juízes.
Para os jogadores acreditarem mesmo no terceiro item, ouviram palestras de Arnaldo Cesar Coelho, Carlos Costa, Luis Carlos Felix e Valquir Pimentel. De quebra um papo de Otavio Pinto Guimarães que como bom advogado convenceu a todos que não existe má fé de nenhum juiz.
A verdade é que a organização de clubes contagiou os jogadores. Cabral e Valdir fundaram uma caixinha de Natal, para a qual todos os jogadores contribuem com 50 pratas mensais. O clube não multa ninguém por atraso ou faltas. Cada minuto de atraso vale dois cruzeiros para a caixinha. Falta mesmo, mesmo justificada, custa 70 cruzeiros.
A BRONCA DE VELHA
Só faltava mesmo testar o time dentro de campo sem muitos dos contratados, é lógico. Eles ainda passavam por um bom período de adaptação. No primeiro jogo, em Teixeira de Castro, contra o Campo Grande, uma decepção: 1 a 1. No segundo contra o Vasco em São Januário, a estreia de Samaarone e Marcos Antonio. E uma vitória: 1 a 0. No terceiro contra o Flamengo, no Maracanã, as estreias de Adãozinho e Mickey e um excelente empate: 0 x 0.
Surgia um novo fantasma no Campeonato Carioca.
Para alguns Travalini e Jouber – um fantasma amedrontado amarrado na defesa. para o técnico Velha, um time consciente de sua força.
(continua)
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Eduardo Pimentel
Técnico de Futebol

















