Muitos moços vão aos clubes ou aos campos varzeanos, levando seu próprio material esportivo, com a esperança de serem aproveitados nos treinos ou nas partidas. Os que ficam de fora porque menos sabem jogar, resignando-se com a má sorte ou por serem demasiadamente displicentes, postam-se ao lado do gramado para olhar o treino dos outros.
Ora, isso não é admissível, porque enquanto estiver encostado na cerca, a habilidade de jogo não entra no seu corpo. Eles precisam é de uma bola para com ela se ocupar com muito empenho, adquirindo-a com suas economias, se necessário.
E não há de faltar um espaço onde possam treinar, individualmente, balãozinho e cabeçadas; passes, domínio de bola etc., com um ou mais companheiros de adversidade; ou os inúmeros lances contra uma parede adequada.
Assim, aproveitando racionalmente cada minuto do tempo disponível com exercitações dessa natureza, em breve esses jovens serão os primeiros a serem escalados.
Nos bate-bolas, também nos clubes maiores, alguns atletas passam, cabeceiam ou dominam a bola, com displicência, ou entregam-se a brincadeiras, como senão tivessem quaisquer dificuldades, como se fossem absolutos na execução de todas as jogadas. Lamentavelmente assim desperdiçam valioso tempo, deixando de melhorar sua categoria.
O indivíduo displicente não pode ser futebolista. Seu lugar é onde pouco ou nada tenha a fazer.
O comportamento de um jogador, mantendo atitude de indiferença, movimentando-se com moleza, efetuando as jogadas sem entusiasmo, contagia todos os companheiros, levando o conjunto ao desastre. Portanto, fora com ele enquanto é tempo.
Nos prélios veem-se jogadores de categoria, depois de uma sequência de jogadas perfeitas, às vezes cometem erro primário. Por quê? Nem todos os artistas do gramado têm formação integral quanto ao permanente desempenho correto do seu papel. Ainda bem que a direção técnica, com sagacidade, pode sanar essa imperfeição.
O futebolista, desde o início da carreira, tem de dedicar-se com entusiasmo e com toda a seriedade, àquela complicada esfera, a fim de conseguir submetê-la, firme e habilmente, ao seu domínio, para a execução de lances sempre impecáveis. Deitado sobre o gramado ou encostado na cerca, descuidando as ocupações com ela – a bola – é que não lhe será possível aperfeiçoar sua capacidade técnica.
Fortes raios solares, mormaço, frio ou chuva, de maneira nenhuma podem constituir razões a serem invocadas para deixar de dedicar-se aos inúmeros afazeres com sua ferramenta de arte.
Sempre que estiver treinando, deve fazê-lo comprometedoramente, como se estivesse enfrentando habilíssimos adversários, na partida mais importante e mais difícil da carreira, na decisiva de um torneio, de um campeonato ou da copa do mundo, onde cada um dos seus lances devesse assegurar a vitória à sua equipe.
Se trabalhar com moleza e com displicência, se acompanhar as brincadeiras dos companheiros desavisados, ele não vencerá suas dificuldades e deficiências. Talvez chegue apenas à mediocridade, jamais à categoria de craque. Portanto, nos treinamentos individuais e sem grupos, nos treinos à frente de um só gol ou nos coletivos e, também, a frente da parede, ele tem de conservar a correta atitude de prontidão, quer parado, quer em movimento:
1) Os joelhos levemente curvados;
2) O tórax um pouco inclinado para a frente;
3) O peso do corpo pousado sobre a parte dianteira dos pés (de modo que os calcanhares não tenham contato com o solo; e
4) A atenção voltada para a bola.
Nessa posição ideal, estará apto para mover-se para cima, para frente, para trás ou para qualquer lado, com a rapidez de um gato, levando a melhor sobre o contendor. A vivacidade nos movimentos, o entusiasmo nas jogadas, a coragem e a decisão nas ações são fatores francamente positivos para o aguçamento do espírito de luta de todos os companheiros.
Às vezes, enfrentando um quadro de menos categoria, depois da marcação de um ou mais tentos, alguns integrantes da equipe deixam-se dominar por tamanha displicência, que chegam a causar angústia e revolta nos torcedores.
Não são raras as ocasiões em que os quadros menores, aproveitando-se dessa circunstância, realizam tremenda reação e conseguem igualar-se e até sobrepor-se no marcador.
Fenômeno idêntico verifica-se quando uma equipe, mutilada pela expulsão de um ou dois jogadores, reage tão extraordinariamente, que a outra, já com o marcador a seu favor, deixando-se dominar por demasiada displicência, acaba por não evitar o empate e até mesmo a derrota.
A competição é a causa fundamental da existência do futebol. Desde a meninice, quem empregar mais tempo e mais esforço, com mais idealismo e com maior ambição nos treinamentos individuais e em pequenos grupos, em terrenos baldios, ou nas equipes juvenis e profissionais dos clubes, estabelece melhores condições para se tornar um verdadeiro craque.
Frente às primeiras manifestações de má vontade e de rebeldia, os dirigentes devem examinar cada caso com urgência e com severidade, para encontrar a solução cabível, dentro das possibilidades do clube, afastando do plantel, se preciso, o causador dos problemas.
Eduardo Pimentel
Técnico de Futebol
