OS EMPRESÁRIOS
Atualmente, os clubes do futebol brasileiro têm à sua disposição diversos mecanismos para atrair jovens às suas divisões de base. Antes a peneirada era o instrumento que mais contribuía na seleção de valores. Hoje, tornou-se o menos produtivo e quase desprezível. O caráter cada vez mais mercantilista do futebol despertou o interesse de muitos setores da sociedade. Pessoas físicas e jurídicas estão investindo tempo, dinheiro e know-how para explorar o futebol. Clubes temporãos, escolinhas de futebol, empresas de representação e assessoria esportiva, parcerias empresariais e empresários (pessoa física e/ou jurídica), em meio a outros modelos de exploração comercial do futebol têm surgido aos montes nos últimos anos. Hoje, no Brasil, quando aparece um jovem promissor para a carreira de jogador de futebol, aparece também uma dezena de empresários e procuradores para cuidar do seu destino.
Muitos empresários ficam nos clubes observando os jogadores e depois quando termina os treinos fora do clube vão aliciar os jovens, oferecendo os melhores para irem para a Europa, Itália etc. Quando levei o jogador Almir do Santos Futebol Clube, de Terere, de João Pessoa, apareceu um empresário e falou direto com Almir. Como fui responsável de levar o jogador, conversei particularmente com Almir, mostrei que o melhor era ficar no Botafogo, um time grande do Brasil, onde ele ia ficar famoso depois ele iria ser negociado pelo clube como profissional. Almir seguiu minha orientação e ficou no Botafogo. No mesmo ano foi campeão juvenil pelo Botafogo e escolhido como o melhor lateral direito da Seleção da competição. Resultado foi promovido para o time profissional e se tornou o xodó da torcida do Botafogo. Depois saiu do Botafogo e foi jogar na Europa, voltou ao Brasil como um jogador reconhecido. As últimas notícias que tive é que ele está bem financeiramente. O amigo Daniel Pacelli pode até procurá-lo para lhe pedir uma orientação e contar sua experiência no exterior.
Está muito diferente de anos atrás. Se, de um lado, parece ser uma exploração injusta aos atletas e à estrutura do futebol, de outro há de se reconhecer que tem havido parcerias interessantes e produtivas para ambos os lados. O “comércio” veio para ficar no futebol e tende a crescer ainda mais. É preciso que os atletas e os clubes saibam, como em qualquer investimento, escolher as opções mais confiáveis e lucrativas.
O empresário de carteirinha, não somente aquele que hoje é credenciado pela FIFA, mas aquele que abraçou o ofício de garimpar talentos pelo país, e às vezes em terras estrangeiras, já é uma figura presente na estrutura do futebol atual. Alguns trabalham em equipe, outros sozinhos, muitos são pessoas jurídicas com escritórios e/ou firmas de assessoria e representação de atletas e clubes, enfim, todos têm um propósito muito definido, que é o de valorizar o produto-jogador de futebol e vendê-lo da melhor maneira possível, no mercado. Muitos são proprietários de clubes temporãos que disputam campeonatos importantes nas categorias de base para colocar seus “produtos” na vitrine.
Outros têm redes de observadores espalhados em várias regiões, garimpando talentos. De certa forma, estão desempenhando uma atividade que antes era só dos clubes tradicionalmente instituídos. Os empresários estão se antecipando nessas funções e vão buscar os jovens talentos onde eles nascem para vendê-los aos grandes clubes.
Os clubes hoje tem no empresário, ou olheiro profissional particular, uma grande fonte de fornecimento de jovens atletas para as suas categorias de base. Os garotos levados por um empresário são obrigados a passar também pelos testes habituais dos clubes. Caso aprovados, são negociados de várias formas. Dependendo da política dos clubes e da credibilidade de que desfruta o empresário, são feitos negócios imediatos ou vinculados de parcerias.
Empresariar atletas do futebol, jovem ou adultos, despertou tanto o interesse em ganhar dinheiro fácil que hoje é comum, não ético, encontrar treinados, dirigentes, jornalistas esportivos, dentre outras classes, envolvidos diretamente com o esporte, participando de negociatas. Os próprios pais não estão preocupados com os estudos dos jovens de 13 a 15 anos, muitas vezes as crianças são bem preparadas, assim as crianças perdem tempo nos estudos, é lamentável, é um crime.
Eduardo Pimentel
Técnico de Futebol