FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA - TÁTICA II FORMAÇÃO WM - SóEsporte
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FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA – TÁTICA II FORMAÇÃO WM

FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA

TÁTICA II

FORMAÇÃO WM

Por quase três décadas, o “WM” reinou absoluto, principalmente pela distribuição equilibrada e simétrica dos jogadores em campo.

O húngaro Dori Kruschner, que dirigiu o Flamengo na década de 30, tentou implantar essa formação na equipe carioca, ao recuar o maranhense Fausto (conhecido como a “maravilha negra”, disputou a copa do mundo de 1930, no Uruguai), para a zaga. A dificuldade de adaptação à nova função, pois o centromédio possuía características ofensivas, provocou de imediato uma forte reação, que contribuiu para a saída do treinador do clube.

No alvorecer dos anos 40, derivada do sistema “WM”, surgiu no Brasil a “Diagonal” de Flavio Costa. O treinador, que dirigia a equipe do Flamengo na ocasião, ao em vez de recuar o centromédio para reforçar sua defesa, decidiu retrair o jogador Juscelino (médio que jogava pelo setor direito). No entanto, este jogador assumiu a posição de zagueiro pelo setor direito da defesa rubro-negra, visando marcar o ponta esquerda das equipes adversárias. Na verdade, tínhamos um 3:4:3, porém, o desenho geométrico formado (segmento de reta) entre Juscelino e o ponta esquerda do próprio Flamengo, fizera com que o sistema recebesse esta denominação.

Ainda na década de 40, surgiu a formação tática 4:2:4. Até hoje brasileiros e húngaros disputam a concepção da referida formação. Todavia, o importante é sabermos como ela se desenvolveu no Brasil. Inicialmente, o Flamengo, e posteriormente o Vasco da Gama, empregavam um quarto homem mais próximo aos atacantes, buscando aproveitar as características ofensivas dos meias Leônidas da Silva e Ademir de Menezes, respectivamente nos seus clubes. A aproximação deste quarto homem junto ao ataque causava problemas à defesa oponente, pois os três defensores do sistema “WM” ficavam em desvantagem numérica, em relação aos quatro que participavam das jogadas ofensivas. Logo, um quarto jogador procedente do meio-campo foi recuado e fixado na zaga. Surgia então, o quarto zagueiro (jogador que atua entre o zagueiro central e o lateral esquerdo), para reforçar a defesa. Com o recuo de um meio-campista e com o avanço de outro, nascia o 4:2:4.

Uma vez que os espaços aumentaram, com a nova formação, as equipes passaram a utilizar a marcação por zona, possibilitando uma cobertura mais eficiente. A formação empregava quatro defensores, dois meio-campistas e quatro atacantes, sendo utilizado pela seleção brasileira na Copa de 1958.

Na verdade, dado às características de Zagalo (movimentação no setor esquerdo do ataque, impedindo que o lateral direito adversário o marcasse), já titular em 1958, a seleção jogava no 4:3:3, embora os clubes no Brasil jogassem na formação 4:2:4.

FORMAÇÃO 4:2:4

A formação conhecida como 4:3:3, emprega quatro zagueiros, onde dois são laterais e dois são os centrais, três no meio campo (um cabeça-de-área e dois armadores) e três atacantes. Esta formação foi definitivamente utilizada pelo Brasil na Copa de 1962, como anteriormente mencionado (decálogo da estratégia).

Ao longo dos anos 70, com a evolução da preparação física dos atletas, cada jogador tornou-se mais dinâmico, cumprindo um maior número de funções, ou seja, atacando, defendendo e criando. Fato comprovado pela presença mais efetiva dos laterais no ataque. Na década de 80, o 4:3:3 permaneceu como sendo o sistema mais utilizado no futebol brasileiro. Naquele período, o futebol ainda possuía grandes maestros na criação e os laterais não apoiavam como nos dias de hoje, permitindo a utilização dos pontos especialistas.

FORMAÇÃO 4:3:3

Na Copa do Mundo de 1990, o técnico Sebastião Lazaroni implantou na seleção brasileira a formação 3:5:2. Formação tipicamente imprópria foi concebida para ser utilizada contra atacantes pesados e centralizados. Lazaroni buscava a modernidade, pois com cinco jogadores no meio campo, tinha por objetivo conquistar a superioridade numérica neste setor. Entretanto, o referido sistema fugia às características do futebol brasileiro, pois nossos jogadores não estavam acostumados ao 3:5:2, os alas não apoiavam como atualmente, e dos três armadores (Dunga, Alemão e Valdo), os dois primeiros atuavam basicamente na destruição. Consequentemente, a seleção atuou com extremo defensivismo, desclassificada no jogo contra a Argentina. A equipe foi armada com três zagueiros (Mauro Galvão, Mozer ou Ricardo Rocha e Ricardo Gomes), onde Mauro Galvão jogava mais recuado como líbero, para dar proteção aos outros defensores e fazer a cobertura. No meio-campo, tínhamos cinco jogadores, dos quais dois exerciam a função de ala (Alemão, Dunga e Valdo) atuavam como no 4:3:3. No ataque, tínhamos Careca e Muller.

No decorrer dos anos 90, vimos no futebol brasileiro o predomínio do 4:4:2, uma evolução em relação ao 4:3:3, pois concentra mais um jogador no meio-campo, setor que define o controle das ações. No sistema, temos quatro zagueiros, sendo que dois são laterais, quatro jogadores atuam no meio-campo, onde dois se encarregam da marcação (cabeças-de-área) e dois fazem a armação, e temos dois atacantes. Aliás, Zezé Moreira foi o responsável pela implantação de dois cabeças-de-área de ontem são os volantes de contenção de hoje.

O apoio efetivo dos laterais no ataque (alas), encerra praticamente a figura do ponta especialista, aquele jogador de características ofensivas e um driblador em potencial, que, ao chegar na linha de fundo, efetua os cruzamentos.

FORMAÇÃO 4:4:2

A figura do jogador chamado de número “um” no sistema 4:4:2 (4:3:1:2) ao ter que desempenhar várias funções (criar, atacar e defender), torna a tarefa difícil para um único atleta. Fernando Calazans, colunista esportivo do jornal O Globo, quando se referia a função, dizia que somente “ZICO” desempenhou a mesma com eficiência. Pois, participava da marcação, permitindo que seus companheiros pudessem se recompor defensivamente, e que, como jogador arco-e-flecha, criava como ninguém e atacava melhor ainda.

Já as formações 4:5:1 e 4:6:0 indicam a tendência no futebol moderno de priorizar, cada vez mais, a supremacia no setor de meio-campo. Criar espaços para aqueles jogadores que vem de trás, dificultando a marcação da defesa adversária, onde a existência de um único atacante ou nenhum fixo, é a nova ordem.


FORMAÇÃO 4:5:1

Segundo o treinador Júlio Cesar Leal, o Santos, vice-campeão brasileiro em 1996, jogava no 4:6:0. Robert, Marcelo Passos, Janelli e Giovani são jogadores meio-campistas com características ofensivas, Gallo e Carlinhos, meio-campistas com características defensivas e a equipe não se utilizava sequer de um atacante especialista.

FORMAÇÃO 4:6:0

Desta forma, o que podemos deduzir ao longo da evolução das formações em combate, foi o aumento do número de jogadores no meio-campo, decorrente do contínuo recuo dos atacantes.

TEATRO DE OPERAÇÕES

O campo de batalha pode ser dividido basicamente em três setores: defensivo, intermediário e ofensivo. No setor defensivo, os jogadores que estiverem sem a bola devem priorizar a marcação e a cobertura. Já o setor intermediário exige talento e sacrifício, pois estes jogadores têm a tarefa de construir as jogadas e negar o uso do meio-campo ao adversário. No setor ofensivo, a rapidez no ataque, a criação de espaços por meio de dribles e tabelas e a desmarcação são essenciais para surpreender o adversário.

LINHAS DE COMBATE

As linhas de combate no futebol, ou seja, a partir de onde vamos começar a fazer a marcação, dependem basicamente da capacidade física dos atletas e do resultado aceitável a ser obtido durante a partida.

Assim sendo, temos basicamente quatro linhas de combate: a marcação por pressão ou no campo do adversário, meia-pressão ou no setor intermediário do adversário, marcação no nosso campo e no próprio setor intermediário.

A marcação por pressão é extremamente desgastante e não é utilizado o tempo todo. Normalmente, é posta em prática quando o adversário é inferior física e tecnicamente, ou quando o placar nos desfavorece.

A meia-pressão é uma linha menos agressiva e, normalmente, é aplicada quando desconhecemos as características do adversário.

A marcação no nosso campo é utilizada quando jogamos contra adversários superiores, visando a negação do espaço.

A marcação no próprio setor intermediário é utilizada, por exemplo, no final de uma partida, quando a equipe precisa garantir o resultado conquistado.

MANOBRAS TÁTICAS

As manobras táticas podem ser ofensivas ou defensivas.

As manobras ofensivas têm início na retomada da posse de bola, objetivando a recuperação do espaço perdido e o gol. Quando somos atacados, a linha imaginária da bola que se desloca paralelamente à linha de fundo e os jogadores adversários vão nos comprimindo em nosso campo e, desta forma, reduzindo nosso espaço de atuação.

A abertura em amplitude, ou seja, a capacidade de uma equipe se espalhar em campo na hora de jogar, dificultando a marcação oponente, as triangulações, a rotação dos jogadores no ataque, as tabelinhas, as ultrapassagens e a penetração no meio da defesa adversária são manobras ofensivas.

As manobras defensivas objetivam salvaguardar a nossa meta contra o ataque adversário.

A cobertura, a ação retardadora que atrasará o contra-ataque do adversário, visado que a equipe se recomponha defensivamente, a compactação (diminuição dos espaços), o equilíbrio numérico entre os defensores e os atacantes adversários e a linha de impedimento são exemplos de manobras defensivas.

Eduardo Pimentel

Técnico de Futebol

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