FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIAS - TÁTICA APLICADA - SóEsporte
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FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIAS – TÁTICA APLICADA

A tática no futebol, como em todo e qualquer desporto coletivo, pode ser considerada como um dos fatores mais amplos e mais ricos, quando se pretende alcançar índices positivos de forma objetiva. É o resultado final de toda uma preparação em que se interdependem o estado físico e técnico de uma equipe.

É preciso, no entanto, conceituar tática e sistema de jogo, pois, embora semelhantes, apresentam conceituar tática e sistema de jogo, pois, embora semelhantes, apresentam características práticas bem definidas.

Por tática futebolística entende-se um jogo planejado de modo racional no qual se tira proveito de todas as situações favoráveis, para dominar o adversário e, consequentemente, conseguir a vitória. Por outro lado, sistema de jogo é a forma preestabelecida de atuação da equipe com a distribuição adequada dos atletas em campo, quando são obedecidas formas definidas de atuação, exemplo 4:2:4, 4:3:3 etc.

O sistema não varia de acordo com o adversário, e sim variam as táticas dentro de um sistema, pois é comum, muitas vezes, uma equipe de potencial inferior adotar o mesmo sistema de jogo de outra mais forte.

O sistema de jogo por si só não soluciona definitivamente os problemas que surgem numa competição, e também não deve ser considerado como um único meio para alcance do sucesso de uma equipe de futebol.

Para se determinar o sistema de jogo, não é extremamente necessária a preocupação com as qualidades físicas, o que não ocorre, quando se fala de planejamento das táticas. Também é importante um bom sistema de jogo para o alcance do objetivo assegurado por uma tática adequada e funcional a ele aliada.

A escolha da tática está condicionada a alguns fatores, conforme se trata a seguir:

a)      condição física da equipe; b) condição técnica da equipe; c) grau de conhecimento e capacidade de assimilação das táticas; d) circunstâncias decorrentes da partida; e) aproveitamento das habilidades individuais das atletas.

TÁTICA E CONDIÇÃO FÍSICA

Ao se elaborar um plano tático e em sua aplicação, a condição física deve ser considerada, e é fator preponderante. Outro fator também a ser observado é a condição física do adversário, porquanto se poderá tirar vantagem de aspectos negativos verificados, em benefício próprio.

Para que a tática seja perfeitamente utilizável, deve-se ter conhecimento profundo da capacidade física dos nossos jogadores, evitando determinar tarefas que não sejam condizentes com seu estado, como por exemplo, determinar a um armador que faça lançamentos em profundidade para um fronteiro que não esteja fisicamente bem condicionado, para suportar uma sequência razoável de intervenções.

O treinador deverá ter o cuidado de insistir com os atletas para distribuírem o jogo entre os vários setores, a fim de não sobrecarregar apenas um ou outro, e com isto, evitará um desgaste excessivo em função de uma esquematização tática.

Se a equipe contrária estiver em melhores condições físicas que a nossa, teremos que reter a bola com passes medidos, obrigando o adversário a correr mais, o que fatalmente lhe provocará um desgaste mais acentuado.

Ainda neste caso teríamos que usar uma tática agressiva no inicio do jogo, para forçar a decaída física do adversário e, se possível, assumir a vantagem no marcador para posteriormente obriga-lo a um ritmo e esforços mais intensos, em busca de igualar ou superá-lo no marcador, tendo minado a cada momento a sua resistência.

O nosso atleta deverá estar conscientizado das suas reais possibilidades físicas, não se deixando envolver em jogadas desnecessárias ou dribles excessivos, o que fatalmente contribuirá para uma queda prematura da condição. Deve o atleta atuar de forma a tender a demanda da partida, dependendo o mínimo possível de energia.

TÁTICA E CONDIÇÃO TÉCNICA

A técnica pode ser considerada como o principal fator na elaboração de um plano tático, por se tratar de mecanismo puramente individual que, somado a outros requisitos lev ará seguramente a equipe a resultados convenientes. A tática não sobrevive sem a técnica, pois dependerão quase todas as evoluções táticas de uma equipe.

A técnica, apesar de muitas vezes ser dom inato de alguns atletas, pode e deve ser burilada, durante os treinamentos, uma vez que aqueles menos favorecidos, ou que não a possuam poderão adquiri-la, com o decorrer do tempo, enquanto aqueles outros estarão se aprimorando, cada vez mais.

Numa tática de jogo, na qual seja envolvida a técnica, novamente o treinador deverá atentar para que não se estipulem jogadas intimamente dependentes da habilidade daquele ou daqueles responsáveis pela sua aplicação, o que quer dizer ser impróprio, por exemplo, determinar a certo jogador que retenha o balão, quando ele não possui o domínio adequado dos fundamentos exigidos.

Como qualquer outro fator envolvidos na elaboração das táticas, os fundamentos técnicos deverão estar sempre na ordem do dia, pois só assim toda tática será facilmente aplicável.

Assim, o treinador, antes de elaborar ou planejar um esquema tático, terá que analisar os aspectos e as possibilidades técnicas dos seus atletas. Porém, se desde o princípio, fizer um escalonamento das táticas que irá aplicar, poderá, juntamente com o preparador físico, incluir, durante as atividades preparatórias, exercícios para a capacitação dos comandados.

Dentro do exposto, conclui-se que é inadequado que o treinador, na tática, ordene, por exemplo, aos defensores, passes rápidos e longos, se para isso lhe falta a capacidade de execução.

A tática deve basear-se no desempenho técnico dos atletas de ambas as equipes, e o seu desenvolvimento não será satisfatório caso não se instale sobre bases técnicas sólidas.

GRAU DE CONHECIMENTO E CAPACIDADE DE

ASSIMILAÇÃO DAS TÁTICAS.

Embora os atletas tenham desempenho físico e técnico bons, ainda lhes é preciso capacidade de assimilação teórica das táticas que a eles forem confiadas.

O nível intelectual heterogêneo, comum no meio futebolístico, talvez seja uma das maiores dificuldades encontradas pelo treinador, para introdução dos ensinamentos tático-teóricos. Eis porque deverá ter paciência durante as suas explanações, aplicando vocabulário simples, eficiente e com poucas palavras, porém a repetição poderá ser um fator positivo, para auxílio daqueles que apresentem dificuldades de assimilação. Além do acima descrito, outro problema surge durante o treinamento prático, ou seja, as inúmeras e necessárias repetições, mesmo que imperiosas, não são vistas com agrado pelos atletas. Este fato pode ser explicado pela repetição contínua que leva a uma desmotivação da equipe. A conscientização para os aspectos táticos é extremamente importante, pois o jogador ciente do seu valor, durante as competições, decerto, colaborará no seu treinamento, evitando a monotonia própria de tal atividade.

CIRCUNSTÂNCIAS DECORRENTES DA PARTIDA

Como se mencionou anteriormente, muitas falhas do adversário poderão beneficiar a nossa equipe, se as explorarmos convenientemente. Dentre estas citam-se: preparação física inadequada, inabilidade técnica, má distribuição tática, estado psicológico desfavorável e outros.

É necessária a capacidade de observação e análise do treinador, que estando fora do calor da competição, tiver a tranquilidade suficiente e o conhecimento indispensável para explorá-los devidamente.

Se, por outro lado, sua equipe foi surpreendida com um desempenho superior da equipe adversária, ele deverá estar munido de meios para modificar a esquematização tática de sua equipe.

A precaução de orientar o capitão da equipe no sentido de ser surpreendido pelo adversário, evita que as ordens enviadas, durante a partida, não sejam compreendidas, e com isso eliminar entradas desnecessárias dos massagistas em campo ou dos próprios preparadores físicos, para transmissão de avisos ou recomendações.

Qualquer referência que envolva a competição merecerá atenção especial do treinador, a fim de prevenir e preparar sua equipe para possíveis surpresas.

APROVEITMAENTO DAS HABILIDADES INDIVIDUAIS

DOS ATLETAS

A adequação dos atletas no posicionamento da equipe em campo, certamente obedecerá as características individuais, físicas e técnicas.

Embora no futebol moderno a rigidez posicional seja um elemento em decadência, muitas equipes ainda conservam esta forma de atuação e, portanto, tem que dirigir os seus treinamentos de acordo com as exigências setoriais.

As vezes, encontraremos, numa equipe, atletas altamente habilidosos, contrastando com elementos do mesmo grupo, o que não impedirá de armar um esquema tático eficaz, a fim de superar as dificuldades.

O treinador ciente destas distorções procurará equilibrar o rendimento tático, dando maior ou menor grau de responsabilidade ao atleta, obedecendo e respeitando suas potencialidades ou suas limitações. Por exemplo: se o lateral marca bem, e não tem muita habilidade com a bola, ineficaz se tornará solicitar-lhe que atue sempre no apoio, ou quando um atleta não possuir grande velocidade, exigir-lhe jogadas em profundidade.

Numa equipe, o ideal seria que todos fossem habilidosos e técnicos, porém, como isto nem sempre será possível, devem-se organizar formações táticas que façam suprir estas deficiências. A somatória destas qualidades deverá encontrar um denominador comum para o atendimento das necessidades táticas da equipe.

TÁTICAS DE JOGO

Com o propósito de esclarecer e desenvolver o preparo para a organização de táticas ofensivas e defensivas, diversas táticas foram esquematizadas sempre obedecendo a uma finalidade própria. Sabe-se que em se tratando de táticas de jogo, se quiséssemos, poderíamos criar um livro somente sobre elas, porém, por meio de inúmeros exemplos oferecidos o professor terá condições de prepara-los, e, se possível, criar novas e variadas formas de conseguir resultados positivas mediante planejamentos táticos bem estruturados e levando-se em consideração os valores anteriormente descritos.

Chama-se a atenção para o cumprimento prático. De nada valerá, se no papel, tudo estiver muito bem planejado, bem redigido, mas, na prática, não se fizer aquilo que a teoria determina.

Para uma tática alcançar os resultados desejados, há necessidade de uma determinação e muito sacrifício, por parte daqueles que a aplicarão.

A função do treinador deverá consistir em explicar, orientar e repetir quantas vezes for necessário, e a do jogador será a de desenvolver treinamentos seguidos, com força de vontade, sentido de conjunto etc.

Nunca se deve passar de uma tática para outra, se a anterior ainda não foi perfeitamente assimilada, e é importante que se obedeça a uma progressão pedagógica e coerente partindo-se sempre do mais fácil para o médio e daí então para o mais difícil.

Espera-se que, com os exemplos que virão a seguir, os professores passem a sentir-se estimulados, procurando sempre uma nova tática, reformulando seus modos de pensar, colaborando assim, decisivamente, para a evolução tática do futebol brasileiro.

DICIONÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO

BA-VI – Forma abreviada para designar os jogos entre o Bahia e o Vitória, de Salvador.

Beque-de-sobra – Aquele que, em qualquer sistema defensivo, não dá o primeiro combate ao adversário, mas cuida de dar cobertura aos companheiros. O mesmo que zagueiro-de-sobra ou líbero.

Bichado – Jogador que tem uma contusão ou moléstia crônica.

Bitoque – Tipo de treinamento que reproduz um jogo de futebol, mas com a particularidade de que os jogadores só podem, em cada intervenção, tocar no máximo duas vezes seguidas na bola; dois toques.

Blitz – Ataque em massa, ataque cerrado; sucessão de ataques.

Boleiro – Designação pejorativo do jogador profissional; jogador que aceita bola, no sentido de suborno.

Bomba – Chute extremamente forte deferido em direção ao gol; jogador de baixo nível técnico.

Bombardeio – Ataque em que são deferidos chutes seguidos contra o gol adversário.

Eduardo Pimentel

Técnico de Futebol

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