A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) promoveu, na noite da última terça-feira (07.04), na capital paulista, o I Seminário ABCD de Educação Antidopagem. O objetivo foi esclarecer os atletas e técnicos sobre as principais ações da entidade e alertá-los sobre os riscos da dopagem, principalmente a do tipo não-intencional. Durante o Seminário, os atletas puderam visitar diversos stands e se familiarizar com os vários instrumentos utilizados pela ABCD em sua cruzada por um esporte livre do uso de substâncias e métodos proibidos pela Agência Mundial Antidopagem (AMA ou Wada, na sigla em inglês). Os participantes ouviram, ainda, palestras como a do ex-clicista norte-americano Tyler Hamilton, campeão da Volta da França e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, que perdeu todos os seus títulos e devolveu a medalha dourada dos Jogos após ter sido flagrado em exames antidopagem. Tyler tornou-se mundialmente famoso por ter sido o autor do livro “A história Secreta de Lance Armstrong”, em que conta com detalhes chocantes e surpreendentes como funcionava a máquina de dopagem montada no ciclismo profissional. Os depoimentos de Hamilton à Justiça dos Estados Unidos e seu livro tiveram enorme repercussão e foram fundamentais no processo que culminou na perda dos sete títulos da Volta da França de Lance Armstrong e de seu banimento do esporte. O secretário nacional para a ABCD, Marco Aurelio Klein também foi um dos palestrantes, assim como o português Luis Horta, médico especialista em medicina esportiva, ex-presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (Adop) entre 2009 e 2014 e que presidiu a Comissão de Laboratório da Wada entre 2005 e 2009. Atualmente, Luis Horta é consultor da Unesco para a ABCD. Em sua palestra, ele explicou os principais pontos do Novo Código Mundial Antidopagem, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2015. Uma das atletas presentes, a ex-ginasta Daiane dos Santos, que disputou quatro edições dos Jogos Olímpicos e se aposentou após competir em Londres 2012, também falou aos participantes e deu detalhes sobre a experiência que viveu em 2009, quando foi flagrada em um exame antidopagem. Daiane lembrou que, em 2009, enquanto estava afastada da Seleção Brasileira para recuperar-se de uma cirurgia no joelho, realizou um tratamento estético com enzimas para queimar gordura. Um dos componentes das enzimas era a furosemida, um diurético proibido pela Wada e por isso Daiane testou positivo. Ela foi suspensa por cinco meses, uma pena branda depois que ficou provado que tratava-se de dopagem não-intencional. “Acho esse tipo de iniciativa (o Seminário) muito importante para os atletas serem informados. Ter esse acesso à informação é crucial para evitar casos como o que aconteceu comigo”, declarou Daiane, que hoje vive em São Paulo e será uma das comentaristas da Rede Globo durante os Jogos Rio 2016. Para Marco Aurelio Klein, o Seminário abre uma nova porta no combate à dopagem no Brasil. “É o início de uma larga caminhada. Esse grupo vai crescer porque cada vez mais precisamos trabalhar para proteger o atleta brasileiro e essa proteção se dá fundamentalmente por uma troca de informações”, ressaltou. Tyler Hamilton, após recordar diversos pontos marcantes de sua carreira e lembrar como fez uso de substâncias proibidas pela primeira vez – um comprimido de testosterona que lhe foi repassado pelo médico de sua equipe – disse que hoje se sente no papel de alertar as novas gerações para os efeitos danosos da dopagem. “Eu sempre soube que estava me dopando. Mas como todo mundo fazia eu me convencia de que aquilo era ok. Acho que muitos de nós (no ciclismo) nos convencemos disso, de que não era errado porque todos estavam fazendo”, declarou Hamilton. Ao afirmar que revelar tudo o que fez de errado como atleta foi um processo de libertação, Tyler disse que disse que se sentiu mais feliz por ter devolvido a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 do que se sentiu ao conquistá-la. Stands Com uma estrutura extremamente bem montada pela ABCD, os participantes puderam percorrer os diversos stands montados em um dos salões do Círculo Militar e compreender em detalhes como funcionam diversos instrumentos da ABCD, além de entender os direitos e deveres dos atletas. Um dos stands explicava o funcionamento da Autorização de Uso Terapêutico (AUT), um mecanismo que permite que um atleta possa fazer uso de um medicamento que contenha uma substância proibida para tratamento de saúde, desde que previamente autorizado por uma comissão de uso terapêutico da ABCD. Em outro, era possível saber como funciona o “Sistema de Localização – Wherabouts”, no qual o atleta precisa informar com detalhes seu paradeiro a cada 90 dias para que os profissionais possam encontrá-lo para testes fora dos períodos de competição. Negligenciar essa informação ou concedê-la de forma errada pode resultar em uma violação do Código Mundial Antidopagem e é passível de punição. Além disso, em um outro stand os participantes puderam entender como funciona o processo de coleta de material para testes e entender todo o processo da cadeia de custódia desde a coleta até a chegada das amostras ao laboratório acreditado pela Wada. Para o ciclista paraolímpico Lauro Chaman, da equipe Memorial Santos e da Seleção Brasileira, vice-campeão mundial de estrada em 2004, nos Estados Unidos, e que neste ano foi quarto colocado no Mundial de Pista na Holanda, o seminário foi bastante esclarecedor. O paulista, que vive em Araraquara, no interior do estado, ressaltou o valor da iniciativa da ABCD. “Achei muito importante. Muita coisa que eu vi e ouvi aqui eu não sabia e vou procurar repassar tudo o que aprendi para outros atletas e para minha comissão técnica. A ABCD está de parabéns e deve dar continuidade a esse tipo de ação”. Lauro ainda destacou a importância dos depoimentos de Tyler Hamilton. “Ele foi um grande atleta, mas não da forma correta. Mas esclareceu muitas coisas sobre dopagem e isso é muito importante. Valeu muito a pena ter vindo e acompanhado todo o seminário”. |
