No futebol de 5 é o Brasil quem dita o ritmo e vitória sobre Argentina dá o tri no Parapan - SóEsporte
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No futebol de 5 é o Brasil quem dita o ritmo e vitória sobre Argentina dá o tri no Parapan

Seleção brasileira abriu 2 x 0 no marcador, tomou gol e quase levou empate no fim, mas garantiu o ouro. Meta agora é o tetra no Paralímpico

Vai Ricardo! Na direita, Jeferson. Vou! Bola baixa! Quatro na barreira. Trave direita! Barulho de metal contra metal. Trave Esquerda! Volta o ruído. Eu no meio! Para quem fecha os olhos e só escuta os comandos, pode parecer indecifrável. Mas é esse o som que dita o ritmo da seleção brasileira de futebol de 5, tricampeã dos Jogos Parapan-Americanos.

A vitória por 2 x 1 contra a Argentina, na decisão desta sexta-feira (14.08), teve todos os “barulhos” de um grande clássico: gritos de gol, bolas na trave e gemidos de dor.

“A gente tem que estar 100% atento às orientações que vêm do banco de reservas e do goleiro, para não deixar nenhum erro atrapalhar. A gente se baseia muito na audição, então a concentração tem que ser total”, explica o camisa 10, Ricardinho, eleito o melhor jogador do mundo em 2006 e em 2014.

O Brasil abriu o placar aos sete minutos, em boa jogada individual do atacante Jeferson, melhor do mundo em 2010. A Argentina equilibrou a partida, chutou com perigo, mas a seleção brasileira sempre ameaçava com intensidade nos contra ataques. Foi em um desses lances que Ricardinho ampliou, a seis minutos do fim do segundo tempo.

Um lance que combinou a genialidade do atleta com a organização tática dos comandos externos. “Existem vários pontos que nos auxiliam. O Fábio (Vasconcelos) é um treinador de muita inteligência e confio nele. Quando roubei a bola, ele falou: ‘Você’. Isso quer dizer para eu fazer a jogada individual, porque quando ele vê que a defesa está fechada, manda trabalhar a bola. Quando ele falou: ‘Você’, eu senti, ‘bom, tem espaço. Vamos embora’. E quando dei o último drible, o chamador disse: ‘É tu e o goleiro’, então era só finalizar”.

Se os atacantes contam com a ajuda do “chamador”, posicionado atrás do gol adversário, que orienta a direção da bola e dos defensores rivais, os zagueiros tem nos goleiros seus “olhos”, já que os arqueiros são os únicos dentro de campo sem deficiência visual. “Às vezes eles vão na intuição, mas o comando tem que vir de mim, para eles conseguirem chegar e fazer o desarme. Tem que ter um sincronismo grande. É muito treino”, disse o camisa 1 brasileiro, Luan Lacerda.

O atleta que sai para marcar o adversário também dá o sinal da ação, como explica Ricardinho. “Todo jogador quando vai marcar, alguns metros antes ele tem que falar ‘Voy’, em bom tom, para que o árbitro e o adversário escute”. Mas a melodia do jogo se desenvolve no tom do guizo colocado dentro da bola. Por isso, no futebol de 5 as arquibancadas devem permanecer em silêncio, a não ser na comemoração dos gols, ou… em um Brasil x Argentina.

“É um duelo intenso, de muita orientação, motivação. Tem hora que fica uma zoeira ali, que atrapalha ouvir a bola. Principalmente nos lances de ataque, próximo ao gol. A torcida sempre se manifesta e às vezes atrapalha. No gol da Argentina mesmo, de forma alguma quero tirar o mérito deles, porque foi um golaço, mas não deu para ouvir nada. Quando o cara mexeu na bola a torcida começou a gritar naquela ansiedade, vai não vai, e eu só ouvi quando a bola estava na rede. Mas isso acontece para os dois lados”, revela Ricardinho, ao descrever o tento argentino, aos 21 minutos da etapa complementar.

Os argentinos ainda foram para cima e quase levaram a partida para a prorrogação. “Foi um jogo duro, mas a gente sabe que contra a Argentina é sempre difícil. E teve duas faltas no fim que foram para matar do coração. Quando olhei para o tempo, 29 segundos para acabar, pensei: ‘Aqui não pode passar mais não’”, conta Luan, ao lembrar da bola na trave que os rivais acertaram no finzinho. Depois foi só esperar o som do apito final e soltar o grito de campeão.

Próximo objetivo

Para o ala direita Jeferson, o balanço no Parapan é positivo, mas agora é pensar no tetracampeonato das Paralimpíadas em 2016. “Conseguimos o ouro, que era o nosso objetivo. Todas as competições que a gente participou foi visando a Paralimpíada. Este é um ciclo muito importante para a gente. Vai ser uma competição diferente, então, temos que continuar nesse rumo e aprimorando o que tiver que corrigir para chegar com força total no Rio”.

O treinador Fábio Vasconcelos é quem dá a receita: “É um grupo que aprendeu a gostar de ser campeão, mas que sempre é humilde e que gosta de trabalhar. A partir de amanhã já tem que pensar em 2016”.

O Brasil chegou ao título Parapan-Americano com uma campanha invicta. Na primeira fase foram quatro vitórias (6×0 no Chile; 3×0 na Colômbia; 4×0 no Uruguai e 4×0 no México) e um empate (0x0 contra a Argentina). A medalha de bronze do torneio ficou com os mexicanos.

O futebol de 5 conta com 22 jogadores contemplados com a Bolsa Atleta do Ministério do Esporte em todo o país. Um investimento anual de quase R$ 450 mil. Para a participação da delegação brasileira nos Jogos de Toronto e para o ciclo Paralímpico de 2016, foram destinados R$ 40 milhões por meio de dois convênios com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que ainda recebe recursos da Lei Agnelo/Piva.

Gabriel Fialho, de Toronto – brasil2016.gov.br

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