Para onde vão nossos talentos? - SóEsporte
Futebol

Para onde vão nossos talentos?

SoEsporte traça raio X das categorias de base dos clubes da Capital e revela os entraves que fecham as portas para a meninada concretizar o sonho de ser jogador de futebol

Ser um jogador de futebol é o sonho de praticamente todo garoto que nasce no Brasil. Tornar esse sonho possível é a missão dos clubes profissionais. Mas, no meio desse processo, existem gargalos e entraves que a maioria dos clubes ainda não conseguiu destravar.

A Paraíba tem produzido grandes jogadores para o cenário futebolístico nacional. Quem nunca ouviu falar em Hulk, Denilson, Fábio Ferreira, Douglas Costa, Marcelinho Paraíba?

Todos genuinamente paraibanos defendendo a camisa de grandes clubes do Brasil, do mundo e até da seleção nacional. Mas porque os clubes paraibanos não são a porta de entrada para esses jogadores no futebol?

Foi com o objetivo de tentar responder as questões como essa que o Só Esporte traçou um verdadeiro raio X de como andam as categorias de base dos três principais clubes profissionais de João Pessoa – Botafogo, Auto Esporte e CSP.

No Belo funciona uma escolinha para crianças que estão no processo de inicialização no futebol. A idade de ingresso é a partir dos cinco anos. O departamento amador dispõe das categorias sub 15, sub 17 e sub 20.

Mas o Botafogo é mais um clube que ainda sofre para tentar se adaptar a Lei Pelé, que desde 24 de Março de 1998 foi instituída para acabar com o passe de jogadores no futebol brasileiro, o que, na prática, tirou os direitos dos clubes formadores de atletas.

Passada mais de uma década, a Lei Pelé ainda causa polêmica e gera desconforto entre empresários e dirigentes de clubes. O problema é que a lei deveria dar um pouco mais de proteção para o clube que forma o jogador, para que o atleta não saia de graça e o empresário atue livremente no mercado.

Segundo um dos maiores nomes da história do Botafogo, o ex- jogador Aguinaldo, que brilhou na década de 90, sendo considerado artilheiro do Brasil com a marca de 35 gols na temporada de 92, e que hoje atua como treinador do sub 15, a lei Pelé foi responsável pela quebra dos clubes de futebol.

“Quando eu comecei jogando futebol era patrimônio do clube, então valia a pena fazer investimento nas categorias de base. Hoje o Botafogo, por exemplo, forma o atleta e quando ele está bem preparado chega um empresário prometendo uma série de coisas, que acaba o tirando daqui”.

Ainda segundo Aguinaldo, o clube tem despesas altas com atletas, principalmente aqueles que vêm de outras cidades e necessitam de alojamento e alimentação. “Depender apenas de um percentual por ser formador do jogador é muito pouco para o clube, por esse motivo não existem grandes investimentos na área”.

Mesmo assim, Aguinaldo ressalta que cerca de dez atletas da base estão a serviço do atual elenco profissional.

foto - no Auto Esporte, no Colosso Alvirrubro. Foto - divulgação

O Auto Esporte funciona com o seu departamento de futebol amador nos mesmos moldes do seu rival, o Botafogo. O clube dispõe de escolinha para crianças iniciantes e categorias sub 15, sub 17 e sub 20.

O clube fez uma parceria com Paulo Germano, profissional que atua na área há bastante tempo. O Auto Esporte entra com as instalações e material esportivo, enquanto Germano coordena todo o departamento amador.

Paulo Germano pontua que os clubes deveriam se adequar a lei Pelé, profissionalizando o departamento amador e protegendo os talentos criados na base com contratos para aqueles com idade a partir dos 16 anos, como manda a lei. Mas, em situação financeira delicada,os clubes  sequer consegue  arcar com as despesas do quadro profissional. “Acaba não sobrando dinheiro para investimento na base”, diz.

O coordenador da base do Auto lembra ainda que até existe por parte do Governo do Estado a intenção de ajudar financeiramente os clubes, mas desde que eles mostrem certidões negativas e apresente projetos estruturantes.

O presidente Manoel Democrito concorda que na situação atual que o clube se encontra acaba não dando para se fazer muito na base, mas ressalta que e é preciso que se faça alguma coisa, e o clube do povo já está fazendo.

“Fazer parcerias como, por exemplo, a que fizemos com o Paulo Germano, já nos permitiu colher alguns frutos. Da equipe que foi campeã de juniores foram aproveitados quatro atletas no profissional”. Mas o Auto, segundo ele, ainda se prepara para desenvolver um projeto que possa dar resultados a médio e longo prazos.

Talvez o CSP – o caçula do futebol pessoense, com apenas 13 anos de existência – seja o clube da Capital mais bem sucedido em revelar jogadores. O Tigre, como é conhecido, hoje conta com as categorias sub 15, sub, 17 e sub 18.

A aposta nos jogadores da base sempre foi a marca do CSP. Segundo Ramiro Sousa, técnico do time profissional, o Tigre é talvez o único clube do Campeonato Estadual que conta com até seis jogadores produzidos na base terminando os jogos na atual competição profissional.

Ramiro Sousa lembra ainda que o clube revelou recentemente o zagueiro Carlos que hoje atua no Fluminense carioca, mas que pertence ao CSP e ele aposta muito no talento de Carlos Caaporã, Leandro e no jovem goleiro João Marcelo. “Brevemente vocês vão ouvir falar muito deles”, disse o treinador.

Todos são unânimes em admitir que, enquanto os clubes não se organizarem melhor para poder revelar os talentos da terra, nossos garotos continuarão sendo garimpados como se fossem verdadeiras joias preciosas por empresários que acabam os levando para longe daqui.

Como reverter esse quadro?

Os dirigentes acreditam que é preciso que se deixe o imediatismo um pouco de lado. A tentativa de encher um elenco de estrelas pode até levar algum público para os estádios e a confiança nos títulos um pouco mais elevada, mas a lucratividade com a base ficará cada vez mais difícil.

Outro problema que vem na carona desse processo é o fechamento das portas dos clubes para a meninada que aprender a jogar até com bola de meia, mas vê, cada vez mais distante, o sonho de ser um jogador de futebol.

Por Maxwell Oliveira, estudante de Comunicação na UFPB

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