O trabalho da ONG Saúde Esporte Sociedade Esportiva com o rúgbi em cadeira de rodas, em Curitiba (PR), começou em 2010 com um objetivo claro: atender pessoas que ficaram tetraplégicas e utilizar o esporte como forma de reabilitação e inclusão. Mas a ideia original não demorou para se ajustar a outra realidade. Logo o desejo de competir despertou nos atletas, o que deu início à história de sucesso do Gladiadores Curitiba Quad Rugby.A equipe foi criada em 2011 para satisfazer a vontade dos integrantes do projeto paranaense, que capta recursos pela Lei de Incentivo ao Esporte, do Ministério do Esporte. “As pessoas com deficiência têm o mesmo espírito de competição que qualquer outra. Nosso grupo foi crescendo, se desenvolvendo e descobrimos talentos dentro da modalidade”, conta Carlos Kamarowski, coordenador do projeto, que começou com sete e hoje atende 21 pessoas, da iniciação ao alto rendimento. Quando diz “alguns talentos”, Marcelo refere-se ao fato de que o Gladiadores tem vivido uma rotina de ceder jogadores para a Seleção Brasileira da modalidade. Nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015, cinco dos 12 convocados eram da equipe, enquanto no Rio 2016 foram três representantes. Rafael Hoffman saiu do projeto para defender a Seleção Brasileira nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. (Foto: Alexandre Urch/CPB)A Saúde Esporte já trabalhava com outras modalidades paralímpicas, mas quando conheceu o rúgbi em um congresso, em 2009, viu ali uma oportunidade. “Não havia esse atendimento no Paraná. A gente criou para atender uma demanda de alguns grupos, rapazes que a gente já conhecia. O negócio bateu com o talento dos meninos. Talentos que estavam só aguardando a oferta da modalidade”, explica Carlos, que trabalha com o irmão Marcelo, técnico da equipe. “A gente utiliza a prática esportiva como forma de reabilitação e inclusão. Dentro desse trabalho, alguns se revelam com perfil de alto rendimento. A gente encaminha para outro passo, que é participar da equipe, onde ele pode crescer dentro do esporte”, acrescenta o coordenador do projeto, contando que os 12 atletas do Gladiadores são beneficiados pela Bolsa Atleta do Ministério do Esporte. Trabalho capta recursos pela Lei de Incentivo ao Esporte. (Foto: Divulgação)Além dos resultados “A convivência com outras pessoas que sofreram a mesma lesão é interessante. Eles descobrem que não foram só eles que passaram por aquele acidente. O pessoal indica o melhor equipamento para usar, dá dicas e eles convivem com rapazes que são casados, têm filhos. Ali eles descobrem que a vida continua”, exalta Kamarowski. “O esporte não é só alto rendimento. Tem tantas pessoas que precisam dele muitas vezes até para sair de suas casas e estão em processo de reabilitação. É mais que ganhar medalhas. Isso é algo que me alimenta e me motiva, poder contribuir com outras pessoas, ver uma transformação não só na vida delas, mas da família também”, destaca Moisés Batista, atleta do Gladiadores que competia na natação e participou dos Jogos Paralímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008. Ele trocou de modalidade em 2012 e tenta passar uma mensagem mais ampla com a experiência adquirida. Gladiadores perfilados: esporte como ferramenta de transformação das vidas e das famílias. (Foto: Divulgação)De Curitiba para o Rio 2016 Um dos exemplos dessa recuperação é Rafael Hoffman, atleta do Gladiadores que disputou os Jogos Rio 2016 com a seleção brasileira. Ele ficou tetraplégico após um acidente no mar em 2007 e recorreu ao esporte para se recuperar. “O grande tesouro foi a troca de informação com outros atletas. Fui vendo outras possibilidades e maneiras de fazer as coisas, como tomar banho e me vestir”, diz Rafael, que foi além. “Por meio do esporte pude fazer faculdade de educação física, tive oportunidade de emprego e viajei o mundo inteiro. O esporte foi fundamental para minha reabilitação e qualidade de vida. E não só a minha, mas do meu ciclo familiar, dos meus amigos. Quando conheci o rúgbi, minha vida mudou para melhor.” Além da reabilitação e de um novo rumo na vida pessoal e profissional, Rafael viveu o sonho de representar o país nos Jogos Paralímpicos, um momento que considera único. “Foi sensacional. O que mais me marcou foi quando entramos para o primeiro jogo, contra o Canadá. Na hora que tocou o hino, com a arena lotada, é uma imagem que dificilmente sairá da memória”, lembra. |