Santiago, Chile (30/11/2017) – Nilson Silva, Mizael Conrado, Ricardinho… a Seleção Brasileira de futebol de 5 construiu uma hegemonia ao longo do tempo. Muito disso se deve à renovação gradativa da equipe: aos poucos, os mais experientes vão passando a vez a quem chega.

No Chile, onde o time vem disputando nesta semana a Copa América IBSA 2017, cabe ao fixo Damião, o mais velho do grupo, com 43 anos, passar o bastão ao ala Tiago Paraná, o mais jovem de todos, com 22. Juntos, eles tentarão dar ao Brasil a terceira vitória nesta edição, contra os donos da casa, nesta quinta-feira, às 17h30 (de Brasília).

O paraibano Damião Robson de Souza Ramos começou a defender a Seleção em 2002, quando o paranaense Tiago da Silva tinha apenas 7 anos. Tricampeão paraolímpico (Rio-2016, Pequim-2008 e Atenas-2004) e bi mundial (Japão-2014 e Inglaterra-2010), ele acompanhou o garoto com idade para ser seu filho desde os primeiros passos com o time, em 2013.

“Apesar de ser o mais velho de idade, não sou o mais experiente dentro do grupo. Mas procuro sempre orientar, me comunicar com os mais jovens, tentando passar um pouco da minha experiência, qual a importância de representar o país, de ir para um campeonato e conquistar a medalha de ouro”, explica Damião.

Do time convocado para esta Copa América, é Marquinhos o atleta que defende o Brasil há mais tempo – foi campeão mundial em 1998, quando o futebol de cegos ainda tinha ares de amadorismo. Época que Damião também vivenciou e em nada lembra a fase atual.

“Dentro de campo, hoje é muito mais corrido, pegado, a disputa é maior. Até em termos financeiros, hoje nem se compara. Alguns ganham muito bem e podem viver uma vida de atleta, mesmo, dedicar-se e ser profissional só do futebol, coisa que naquele tempo não existia.”

Exemplo vem de cima

Tornar-se um atleta, por sinal, foi o que Tiago descobriu rapidamente ser a maneira mais rápida de inserção para um deficiente na sociedade. Ele perdeu completamente a visão aos 5 anos – teve descolamento de retina dos dois olhos, glaucoma e catarata congênita.

“A sociedade tem uma imagem da gente muito de coitadinho, deficiente, que não pode fazer nada, tem de ficar só dentro de casa. E quando você fala que é atleta, as pessoas olham diferente, percebem que todo deficiente, independentemente do que seja, cego, cadeirante, é capaz”, afirma, orgulhoso por ter chegado à melhor seleção do planeta.

A receita para se manter entre os melhores, ele tem ao seu lado diariamente nos treinos e jogos do Brasil. “É para poucos, o que o Damião fez. É uma pessoa que treina, se dedica. Isso dá uma motivação”, elogia Tiago.

E que conselho mais o “vovô” Damião poderia passar aos jovens pupilos?

“Primeiro, é gostar do que faz. Querer mesmo. E nunca desistir, porque eu sempre gostei de jogar. Quando enxergava, já jogava. O conselho que dou aos atletas é para que procurem as associações e comecem a praticar um esporte. Não precisa ser só o futebol. Tem o goalball, a natação, o atletismo… Que vá praticar algum esporte em busca de um objetivo na vida.”

Copa América

O Brasil lidera a competição após vencer seus dois primeiros desafios: Peru (9 a 0) e México (2 a 0). Depois de encarar o Chile, nesta quinta, enfrenta Argentina e Colômbia na sexta e no sábado, respectivamente.

O torneio é jogado no formato de todos contra todos, em turno único. As duas equipes com mais pontos ao fim desses confrontos garantem vaga na final, no dia 3 de dezembro.

A Seleção, invicta há 54 partidas, busca sua sexta conquista de Copa América. Foi campeã em 2013 (Santa Fé-ARG), 2009 (Buenos Aires-ARG), 2003 (Bogotá-COL), 2001 (Paulínia-BRA) e 1997 (Assunção-PAR). Só não ganhou em 2005 (São Paulo-BRA) e 1999 (Buenos Aires-ARG).

Fotos: Renan Cacioli/CBDV
Legenda 1: Damião se posiciona para a execução do Hino Nacional antes de Brasil x México
Legenda 2: Tiago Paraná domina a bola ao lado de Nonato e de frente para Damião