Treinador Fábio Vasconcelos deixa comando da Seleção Brasileira de futebol de cegos - SóEsporte
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Treinador Fábio Vasconcelos deixa comando da Seleção Brasileira de futebol de cegos

O treinador Fábio Vasconcelos durante partida dos Jogos Paraímpicos de Paris 2024 | Foto: Wander Roberto/CPB

Após mais de duas décadas dedicadas quase que exclusivamente ao futebol de cegos, o técnico Fábio Vasconcelos deixou o comando da Seleção Brasileira da modalidade. Multicampeão como goleiro e treinador, o paraibano de 50 anos recebeu e aceitou o convite da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) para assumir a função de coordenador técnico, no qual atuará fazendo a ponte entre diretoria e comissões técnicas e atletas das Seleções de futebol de cegos, goalball e judô paralímpico do Brasil.

Ainda não está definido quem assumirá o seu cargo de treinador na equipe que conquistou a medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, no início deste mês.

“Eu tinha uma dúvida, se iria até o fim do ciclo de 2024 ou 2028. Sabia que estava próximo de parar. Na minha concepção, agora de técnico e também quando jogava, são ciclos, com início, meio e fim. Temos de saber a hora de parar. Quando recebi o convite para assumir a coordenação, analisei e topei, porque já estava querendo novos desafios também”, explicou Fábio.

“O Fábio cumpriu um papel fundamental no futebol de cegos, primeiro como goleiro, e depois, como treinador. O convite para ele assumir a coordenação técnica da CBDV é justamente uma maneira de reconhecer seu esforço na Confederação e trazer toda essa experiência para as demais modalidades. Temos certeza de que será um elo fundamental entre a direção e as comissões e os atletas”, afirmou o secretário-geral da CBDV, Helder Maciel Araújo.

Veja a entrevista completa com Fábio Vasconcelos:

Quando tomou a decisão de sair do comando técnico da Seleção e por quê?
Eu tinha uma dúvida, se iria até 2024 ou 2028. Sabia que estava próximo de parar. Na minha concepção, agora de técnico e também quando jogava, são ciclos, né, com início, meio e fim. Temos de saber a hora de parar. Quando recebi o convite para assumir a coordenação, analisei e topei, porque já estava querendo novos desafios também. Tenho certeza de que tenho como contribuir ainda tanto no futebol como em outras modalidades. Saio com a sensação de dever cumprido. Vida que segue e vamos agora para este novo desafio.

O que espera levar da sua experiência no futebol de cegos para a coordenação técnica de Seleções da CBDV?
Vou levar as coisas que acertamos. Na minha visão, acertamos muito mais do que erramos, e os resultados estão aí para mostrar isto: de três Jogos Paralímpicos, foram dois ouros e um bronze. Em Mundiais, a mesma coisa: dois ouros e um bronze. Conquistamos o ouro em todos os Parapans que disputamos. Então, nesta nova função, vou aprender com as outras modalidades, no goalball e no judô, e trabalhar em conjunto com as comissões técnicas, com a direção da CBDV, para levar a minha experiência. São quase 12 anos como treinador, e nunca tive problema nenhum com os jogadores. Quero chegar para somar, para estar sempre dialogando e ser este elo entre a direção e as comissões para levar o melhor possível a eles.

Você disse anteriormente que seu maior legado na modalidade seria o trabalho de renovação da base. Isso se mantém? Sua opinião é a mesma?
Acho que teve alguns legados. O primeiro, de fato, foi conseguir inserir o trabalho com a base, que se tornou um processo de várias etapas. Começou com a minha comissão, do zero, dando treino para a principal e para o time sub-25. Depois, fomos aumentando o número de profissionais até conseguirmos estruturar uma comissão específica para as categorias de base. Para mim, este é o maior legado que eu deixo. Mas também teve outras coisas. O próprio sistema de jogo. Eu trouxe muitas coisas do futsal convencional para o futebol de cegos, como a intensidade, a transição defensiva e ofensiva. E os resultados, porque sem eles eu nem sequer estaria aqui falando tudo isso, já tinha ido embora. Não é fácil ter todos esses resultados que conseguimos.

Você viveu o processo de sair da modalidade enquanto jogador e, agora, de sair como treinador. Qual dos dois momentos foi mais difícil para você?
Os dois foram difíceis, são momentos de mudança. Mas tanto como goleiro como quanto treinador, saio com a consciência de ter cumprido meu dever. Quando deixei de jogar, foi uma transição muito difícil porque estava assumindo a Seleção sabendo que os Jogos Paralímpicos seguintes seriam a do Rio, um desafio muito grande. Hoje, além de treinador, eu já vinha trabalhando com gestão, coordeno o Centro de Referência aqui da Paraíba, então, estou mais tranquilo. E não deixarei de ajudar quem fica, porque o futebol será uma das modalidades com as quais continuarei trabalhando de perto.

Quantos anos da sua vida já foram dedicados ao futebol de cegos e quais as principais mudanças na modalidade que viu no decorrer da sua trajetória?
São mais de duas décadas. Comecei em 2003, na Apadevi, de Campina Grande, e logo fui convocado para ser goleiro na Seleção, de onde não saí mais. A maior evolução que eu vejo foi nesses padrões táticos. No começo, não era fácil, havia muitas dúvidas entre os atletas, era muita transição entre defesa e ataque. Mas os jogadores foram confiando e vendo que era possível. Isto é algo que acabou ficando para o futebol de cegos não apenas do Brasil, mas do mundo todo.

Como foi sua entrada na modalidade? O que mais lhe chamava a atenção quando começou?
Meu início foi na Universidade. Um professor me chamou para fazer uma demonstração, porque eu já era goleiro de futsal semiprofissional, e haveria uma partida entre Apace, de João Pessoa, e Apadevi, de Campina Grande. Eu não conhecia futebol de cegos e até brincava na época que, se eu levasse gol, deixaria de jogar futsal. E perdi de 1 a 0. Foi quando teve início toda essa minha bonita história com a modalidade. Um dos motivos que fizeram com que eu me desse bem no futebol de cegos foi que eu já vinha com uma mentalidade de profissionalismo do futsal. Quando cheguei no meio deles, levei muito a sério o negócio. Não tinha essa coisa de ‘ajudar o ceguinho’. Não, eu levava mesmo quem pudesse ajudar os atletas de forma profissional dentro do treino, do jogo. Eu sempre levei tudo muito a sério.

E a família? Como recebeu a notícia de que você sairia?
A família ainda não estava sabendo de nada, apenas que estava perto da hora de parar. Só souberam quando voltei de Paris e chamei minha esposa [Gracieli], meus filhos [Júlia, de 12, e Caio, de 8]. Mostrei a importância do novo desafio e todos concordaram. Eles sempre me apoiaram em minhas decisões.

Qual foi o seu momento mais marcante como treinador da Seleção Brasileira e por quê?
Acho que eu citaria dois momentos que foram marcantes e fundamentais para a minha carreira como treinador. Um foi o Mundial de 2014, no Japão. Eu tinha de ganhar para poder continuar. Tinha feito uma bonita carreira como goleiro, mas ainda não era conhecido como treinador. Sabia que ali seria um divisor de águas. E a segunda foi no Rio. Os primeiros Jogos Paralímpicos em casa, tínhamos ganhado tanto já e eu pensava: ‘Meu Deus, será que eu vou perder aqui dentro do Rio?’. Teve o Ricardinho com uma lesão muito séria naquele ano. Depois, na reta final da preparação, infelizmente, o Bill e o Guegueu também se machucaram. Acho que foi a única vez que passei uns três dias sem dormir direito à noite, acordando direto. Eu via o ouro meio que indo embora, sabe? E, graças a Deus, com o trabalho de todos, comissão e atletas, conseguimos superar e ganhar a medalha de ouro.

Confira as principais conquistas de Fábio Vasconcelos como treinador da Seleção Brasileira:

Jogos Paralímpicos

  • 2024 – Paris (bronze)
  • 2020 – Tóquio (ouro)
  • 2016 – Rio (ouro)
    Copa do Mundo
  • 2023 – Birmingham (bronze)
  • 2018 – Madri (ouro)
  • 2014 – Tóquio (ouro)

Jogos Parapan-Americanos

  • 2023 – Santiago (ouro)
  • 2019 – Lima (ouro)
  • 2015 – Toronto (ouro)

Copa América

  • 2022 – Córdoba (prata)
  • 2019 – São Paulo (ouro)
  • 2017 – Santiago (prata)
  • 2013 – Santa Fé (ouro)

Grand Prix da IBSA

  • 2024 – Schiltigheim (bronze)
  • 2023 – São Paulo (ouro)
  • 2022 – Puebla (ouro)

*Com informações da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV).

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