Estamos publicando a segunda crônica do jornalista Carlos Pereira sobre a história dos estádios Amigão e Almeidão.
Carlos Pereira
Ao longo da minha vida tive muitos sustos, e certamente, o maior deles ocorreu há exatamente 35 anos. Foi de tamanha intensidade que jamais pude esquecê-lo, e por isso, resolvo contá-lo neste segundo domingo de março de 2010.
A festa estava preparada e o estádio recebia um público que quase preenchia sua lotação. Era a coroação de 15 meses de trabalho intenso, que envolveu milhares de pessoas, incluindo engenheiros, técnicos e operários – tudo para cumprir, em tempo, a promessa do então Governador Ernani Sátiro, de entregar a Campina Grande e João Pessoa, nos últimos dias do seu mandato (que terminava a 15 de março de 1975) dois modernos, espaçosos e confortáveis estádios de futebol.
No sábado, 8 de março, Campinense e Botafogo do Rio de Janeiro (meu time de coração e do Governador), jogaram sob aplausos de milhares de torcedores que ali foram para conhecer a nova praça de esportes e saudar, com merecida ovação, o Governador, grande benfeitor do futebol paraibano.
No domingo, dia 9, o Botafogo carioca deslocou-se para João Pessoa e, às 15 horas, adentrou o belo gramado do estádio construído (em tempo recorde) para se bater ante o seu homônimo paraibano.
Casa cheia, grande expectativa dos torcedores, dezenas de autoridades presentes, inclusive o Governador que na Tribuna de Honra recebia merecidos aplausos. E, em mim, uma ansiedade sem limites, pois – como responsável direto pela construção dos dois estádios – além de ter sérias preocupações ao longo daqueles 15 meses de obras, ainda tive de conviver com uma campanha cerrada de alguns deputados contrários ao Governador, principalmente, o aguerrido Rui Gouveia que, nos dias que antecederam a inauguração, em entrevistas às rádios e aos jornais, dizia que o estádio não tinha segurança, que os prazos técnicos não haviam sido cumpridos e alertava para o risco de se entregar à população uma obra que – segundo ele – não estava pronta.
Os que viveram aquele tempo devem lembrar que, durante a partida, houve um lamentável episódio ( uma bomba foi detonada debaixo da arquibancada “sol”), cujas conseqüências teriam sido muito mais graves, se a equipe que construiu o estádio não tivesse tomado as providências que uma obra daquele porte merecia.
O certo é que, talvez sugestionados pela campanha negativa do Deputado, centenas de torcedores que estavam naquela parte da arquibancada, ao ouvirem o barulho, correram em direção ao gradil e eu – jamais saiu da minha retina – no outro lado do estádio, perto do Governador, enfrentei o maior susto da minha vida. Olhando aquela maré de gente descendo aos borbotões dos degraus superiores da arquibancada em direção ao gradil que a separava do fosso, meu coração bateu mais acelerado, rezando aos céus para a mureta não desabar com o peso e a pressão das pessoas aflitas.
Graças a Deus e à qualidade dos serviços executados (o gradil foi concretado dois meses antes – dentro dos prazos exigidos pelas normas técnicas), a mureta não cedeu e apenas um torcedor quebrou a perna porque pulou para o fosso.
Lembro que o susto só passou no momento em que verifiquei que a construção fora testada (embora de forma não programada), e passara com distinção pelo teste.
E recordo que alguém me aconselhou a tomar um Lexotan , mas na falta do tranqüilizante, a solução foi (quase) encher a cara com alentadas doses de Chivas Regal, o uísque preferido do Governador que, evidentemente, não poderia faltar naquele ato.
Já se vão 35 anos, mas a lembrança ficou para sempre, assim como o estádio que continua aí, firme e forte, servindo – como era desejo de Ernani – ao futebol da Paraíba.