Washington Rodrigues: carisma e poder de comunicação direta com o povo do rádio - SóEsporte
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Washington Rodrigues: carisma e poder de comunicação direta com o povo do rádio

Assessoria CBF

Washington Rodrigues fugiu à regra da maioria dos seus companheiros de profissão. Ele jamais teve vocação para ser radialista. Bancário, jogador de futebol e de futebol de salão, no Rio de Janeiro, Washington teve na vida a sua melhor escola com que construiu toda a bagagem que o tornou um dos profissionais de rádio mais conhecidos do país.

Carioca do bairro Engenho Novo, filho do português e vascaíno doente Carlos Nunes Rodrigues, Washington se tornou rubro-negro graças à influência de um tio. Ele cresceu no ambiente do futebol, com toda a marca popular e histórias de esquinas e discussões de bares que cercam o esporte, o que acabou sendo fundamental para a sua formação como radialista.

– Não foi uma escolha por vocação. Foi por acaso mesmo, como tudo o que aconteceu na minha vida. A Rádio Guanabara lançou um programa sobre futebol de salão e, como eu era jogador, e conhecia todo mundo no meio, comecei, primeiro, a prestar uma espécie de consultoria sobre o esporte, e depois a apresentar o programa. Era o “Beque Parado”.

Pronto. Estava despertada a incrível vocação que o dono da voz e facilidade de comunicação não sabia que tinha. Com a saída de um companheiro, passou a ser repórter de futebol de campo. Era uma época difícil, de poucos recursos, e cada emissora possuía só um repórter para cobrir todos os clubes – pela manhã, Washington cobria Vasco e América; à tarde, Fluminense, Flamengo e Botafogo.

– Era uma correria, de um clube para o outro, mas consegui fazer bem o meu trabalho. E olha que era complicado, com as dificuldades daquele tempo, em que o microfone tinha de ser ligado na tomada, 110v. Então, eu tinha de convencer o jogador a sair do campo e ir ao meu encontro para poder entrevistá-lo.

Para quem é capaz de ficar horas contando histórias, para diversão e prazer dos interlocutores, Washington não teve dificuldade de levar todo mundo – jogadores, dirigentes, torcedores – na conversa. Conseguiu se destacar, já com um repertório de tiradas que no futuro o tornariam famoso.

Foi também nessa época, em 1962, que recebeu novo convite. Seria repórter nos jogos de aspirantes, que nos anos 1960 começavam às 13h15, na preliminar dos jogos dos times principais, que se iniciavam às 15h15.  Dali para ser também dos profissionais foi um pulo. Washington fez tanto sucesso que foi escolhido o melhor repórter do ano de 1963, em eleição feita pela então prestigiada e importante “Revista do Rádio”.

A trajetória do repórter que se comunicava com facilidade começou a decolar. Jorge Cúri, o dono da voz e da narração de gols mais bonitos, levou-o para a Rádio Nacional. Continuou se destacando e foi para a Rádio Globo, que estava formando uma equipe de craques no radio-jornalismo esportivo.

Em 1969, houve o grande salto na carreira. Foi o ano que o homem chegou à Lua, no dia 20 de julho. Devido à similaridade do microfone usado pelos astronautas da missão Apolo 11, o chefe da equipe da Rádio Globo, Waldir Amaral, teve a “sacada”. Passou a anunciar da seguinte forma as entradas de Washington Rodrigues nas transmissões.

– Lá vai o Washington Rodrigues com o seu Apolinho (o microfone).

Era exatamente o que faltava para Washington decolar de vez.  Ele viu que chegara o seu momento, afinal era um nome mais do que popular, de assimilação fácil para o torcedor.

Washington Rodrigues passou a ser então o Apolinho. Foi quando também encontrou uma alma gêmea de profissão para formar uma dupla de sucesso: o também grande repórter Denis Menezes. Eles foram os primeiros Trepidantes, informado bem o ouvinte em casa e nos estádios.

Mas não bastava dar a notícia de primeira mão, o furo, conseguir entrevistas com os grandes craques. Washington, com sua intuição, própria da sabedoria das ruas, queria falar com o torcedor como se fosse também um deles – ele queria que as pessoas se identificassem com o que estavam ouvindo.

Bordões foram então criados. Com repercussão imediata, instantânea, virando substantivo. O torcedor que lotava a geral, aquele da massa que pagava o ingresso mais barato e ficava quase à margem do gramado, bem ao alcance dele e dos outros repórteres, virou “geraldino”.

O torcedor do andar de cima, que atirava “objetos” na turma de baixo, era o “arquibaldo”. Até mesmo quem não pagava ingresso, o que pulava o muro do Maracanã, foi contemplado – era o “murilo”.  Uma falta violenta, uma entrada mais dura, deixava o jogador caído no gramado “sem som e sem imagem”.

Clássicos que lotavam as tardes de domingo no Maracanã ganhavam rivalidade mais acirrada ainda: eram, sob o olhar do Apolinho, “briga de cachorro grande”. Um jogador temperamental ou um adversário perigoso viravam um “fio desencapado”.

Apolinho trabalhou em 10 Copas do Mundo. Justamente a sua primeira, em 1970, a do México, foi a que marcou a sua vida.  A Seleção Brasileira de 1970, tricampeão do mundo, o deixa emocionado até hoje.

– Foi o maior time de futebol que eu vi jogar, mais disparado. E o segundo melhor time que eu vi jogar foi a seleção reserva de 70. Nenhum time do mundo repetiu o que aquela seleção fez no México.

A começar pelo período de preparação, revolucionária para a época, que incluiu uma temporada de treinamentos de quase três meses na cidade de Guanajuato, para adaptação à altitude.

– O Brasil de 1970 estava preparado para jogar não só na altitude do México como até da Bolívia. O time estava perfeitamente adaptado e voando fisicamente em campo, principalmente no segundo tempo, quando os adversários não tinham mais pernas para acompanhar.

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