Atlético-MG, Botafogo e Fluminense podem ter um jogo a cada três dias até o final do ano; entenda desafios do calendário atual
Presidente da CBF revelou que irá apresentar uma nova proposta de organização dentro dos próximos 60 dias
O calendário do futebol brasileiro deve ganhar uma nova versão conforme revelou o presidente da CBF, Samir Xaud, nesta segunda-feira (11). A ideia é que, dentro de 60 dias, uma nova proposta seja apresentada e encaminhada para avaliação dos clubes e das federações estaduais para solucionar críticas como o excesso de jogos e o pouco tempo para treinamentos e recuperação.
Na atual temporada, por exemplo, Atlético-MG, Botafogo e Fluminense, clubes que ainda estão em três frentes, podem disputar mais 34 novos até o final da temporada caso sigam em todas as competições, o que representaria uma partida a cada 3,9 dias.
O momento atual é o de afunilamento das principais competições, com as quartas de final da Copa do Brasil já definidas e a volta da Libertadores e da Copa Sul-Americana nesta semana, na fase de mata-mata. O Campeonato Brasileiro, por sua vez, se estenderá até 21 de dezembro, por conta da paralisação no meio do ano durante o período do Mundial.
Até o final da temporada ainda haverá mais três paralisações por datas Fifa, que somam um total de 27 dias de pausa – de 1 a 9 de setembro, 6 a 14 de outubro e 10 a 18 de novembro. Sendo assim, o intervalo efetivo para a disputa dos jogos até o final do ano seria de 105 dias, o que poderia significar uma partida a cada 3,1 dias para Atlético-MG, Botafogo e Fluminense.
No caso do alvinegro carioca, a equipe é a única brasileira que ainda disputa as três principais competições – Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil. Já o Galo e o Tricolor, além das competições nacionais, também jogam a Copa Sul-Americana. Os três times ainda contam com duas partidas atrasadas no Brasileirão.
Além da maratona de jogos, outro fator que pode levantar preocupações principalmente para Botafogo e Fluminense, que disputaram a Copa do Mundo de Clubes no meio do ano, é o fato de os atletas dessas equipes terem seguido em atividade no mundial enquanto os demais times que não participaram da competição aproveitaram o período para dar férias aos atletas e realizar uma intertemporada.
Guilherme Soares, Performance Manager da Volt Sports Science, plataforma de saúde e serviços para atletas de futebol de elite, ressalta que além das condições físicas também há maior desgaste mental acumulado pelos atletas que seguiram para a disputa do mundial. Tais fatores, entretanto, não significariam uma perda de competitividade caso haja a adoção de uma abordagem científica que seja abrangente e multidisciplinar.
“Apesar de desafiador, é totalmente possível manter um bom rendimento até dezembro ao realizar uma boa gestão da carga de treinos, jogos e do descanso, encontrando o equilíbrio físico, mental e emocional do ser humano – que vem antes do jogador”, destaca.
Entre os principais desafios apontados como comuns às equipes que ainda seguem vivas em mais de uma competição, destaca-se a gestão da carga de trabalho, de modo a garantir o máximo rendimento e a redução de lesões. “Nessa maratona de jogos, treinar bem muitas vezes significa treinar menos, mas com mais qualidade; para que haja um maior desempenho durante os jogos que estão nas fases decisivas”, pontua a Dra. Morgana Américo, fisioterapeuta das categorias de base e sócia da Sonafe (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva).
Ela também destaca a ciência do esporte como um diferencial competitivo para o atual momento da temporada, com destaque para técnicas como crioterapia, massagens, compressão pneumática, alimentação e hidratação específicas, além da importância do sono de qualidade e de um planejamento que respeite a individualidade de cada atleta.
Para saber a melhor forma de dosar a carga dos atletas, ainda podem ser utilizadas alternativas como testes para análise da produção de força de diferentes músculos, marcadores bioquímicos através da coleta do sangue e análise dos dados do sono com o auxílio da tecnologia.
Além do controle de carga e do trabalho individualizado para cada atleta, os trabalhos preventivos contra lesões também são apontados pelos especialistas como fundamentais na preparação. O profissional da Volt Sports Science destaca que, apesar das lesões fazerem parte do ambiente de alta exigência física e mental, há trabalhos para diminuir ao máximo as chances.
“Sempre colocamos o atleta em condições protetivas, por isso as avaliações periódicas e monitoramento diário são cruciais no processo, pois muitas vezes o corpo nos dá sinais importantes, e quando estamos atentos a isso, temos a capacidade de evitar problemas maiores”.
“A medicina preventiva é um dos pilares centrais para sustentar a performance dos atletas nesse cenário de alta exigência física e sequência intensa de jogos. Trata-se de antecipar o problema — identificar sinais precoces de sobrecarga, desequilíbrios musculares ou fadiga antes que se tornem lesões.
Hoje, o fisioterapeuta não atua apenas na reabilitação após lesão, mas na prevenção, com protocolos específicos de avaliação funcional, testes de força, flexibilidade, controle motor e estabilidade articular. Um bom exemplo prático disso é o uso do chamado PSR, um questionário sobre fadiga, dor, sono, etc., no qual conseguimos identificar como está a recuperação do atleta, e com isso adaptar o treino dele diariamente”, complementa a profissional da Sonafe.
Momento atual é o de máximo rendimento
Além da utilização da ciência e da tecnologia para garantir o melhor rendimento dos atletas, também há técnicas que possibilitam planejar a carga de trabalho para a temporada de modo que o atleta garanta o melhor rendimento somente em estágios mais avançados do ano. Trata-se de um conceito chamado periodização do treinamento, que organiza a carga física, técnica e emocional ao longo do ano, de forma estratégica, conforme explica a Dra. Morgana Américo.
“A ideia é que o atleta não esteja no seu ápice físico em fevereiro ou março, mas sim em agosto, setembro e outubro, que são meses decisivos para quem está vivo em várias competições, como Copa do Brasil, Libertadores, Sul-Americana e também o Brasileirão. Para isso, o trabalho precisa ser planejado desde o início da pré-temporada, alternando momentos de maior carga com períodos de recuperação, e ajustando continuamente a preparação conforme a resposta dos jogadores”, afirma.
“Nesse contexto, a fisiologia, a fisioterapia e a medicina têm um papel essencial. Monitorar o desgaste, prevenir lesões e ajustar cargas individualmente permite que o grupo chegue ao segundo semestre com o maior número de atletas disponíveis — e em boas condições para performar. É o que chamamos de pico de forma planejado”, complementa.
Por Leonardo Oliveira
