A crônica desta semana de autoria de Serpa Di Lorenzo faz homenagem a Valdeci Santana. Causos & Lendas do nosso futebol: Dez era a camisa dele. POR SERPA DI LORENZO.
“Antigamente, quem jogava com a camisa 10 era um meia armador, com inteligência pra criar jogadas criativas e habilidade para avançar no ataque. Ser 10 era ser craque, chamar pra si a responsabilidade e ir além dos gramados.” (Juliana Farano).
O mundo vivia a chamada guerra fria, sendo dividido em dois blocos, o capitalista, comandado pelos Estados Unidos da América, e o socialista, pela extinta União Soviética. Vários foguetes eram lançados para conquistar a lua. Elvis Presley, Beatles e Roling Stones encantavam o mundo.
No Brasil, a jovem guarda animava as tardes de domingo. Os militares estavam governando a nação e a nossa seleção de futebol era considerada a melhor do mundo. Pelé era o “Rei” e havia mistificado a camisa dez…vesti-la era sinônimo de ser craque, como Ademir da Guia, Rivelino, Dirceu Lopes, Afonsinho e tantos outros que portaram esse número mágico e emblemático nas costas.
E foi nesse clima que estreou para o nosso futebol, precisamente no dia 01 de maio de 1965, enfrentando o extinto União Esporte Clube, Valdeci Santana Araújo, o popular Valdeci Santana, no meio de campo do Botafogo-PB e com a responsabilidade de portar esse algarismo em suas costas.
Ele comandou e cadenciou o ritmo do alvinegro por oito anos, sempre como titular e alegrando a torcida paraibana com a sua forma clássica e elegante de se jogar futebol. A bola nunca foi um mero instrumento de trabalho em seus pés, ao contrário, ela fazia parte de seu corpo, tamanha era a cumplicidade entre ambos. Ele foi peça chave naquele timão que trouxe a hegemonia do futebol de volta para a capital, vencendo os campeonatos estaduais de 68-69 e 70.
Também esteve em campo nas duas vezes em que o “Rei Pelé” aqui jogou, em 1969 e em 1971. A primeira no jogo das faixas do bicampeonato paraibano, a segunda nos acertos do passe do ponteiro e companheiro Ferreira.
Vários atletas e parceiros estiveram em campo lado a lado com Valdeci Santana, porém foi o não menos craque “Nininho, o fiapo de ouro”, quem melhor se identificou e tabelou com o nosso homenageado. Tal harmonia também existiu fora das quatro linhas, pois foram muito amigos.
Outra grande contribuição do nosso camisa dez ao Botafogo foi naquela viagem ao estado de Goiás, no início dos anos 70, quando o clube conseguiu excelentes resultados e boa classificação no denominado “Torneio Integração”.
Em 1973, o nosso camisa dez, depois de oito anos ininterruptos deixou o nosso futebol e foi dar alegrais aos torcedores do vizinho estado do Rio Grande do Norte. Primeiro jogou no Cosern, depois foi para o ABC e participou daquela excursão aos gramados europeus.
Depois do ABC Valdeci Santana jogou novamente no Cosern, teve uma passagem pelo Potiguar e encerrou a sua carreira vestindo novamente a camisa do Cosern. Em 1977 ele conseguiu a sua merecida aposentadoria.
Aposentado, não pensou duas vezes, pegou a esposa e filhos e retornou para esta capital, onde reside até os dias de hoje. Aqui, os saudosistas o homenagearam por duas vezes,uma com o título de Cidadão Pessoense, na Câmara Municipal, a outra foi dentro do Almeidão, com um certificado e uma camisa dados pela diretoria do Botafogo.
Parabéns, Valdeci Santana, você escreveu o seu nome com tintas perpétuas e douradas na história do futebol paraibano!
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