A história dos atletas de futebol da Paraíba que chegaram a Seleção Brasileira se confunde com a própria história do futebol brasileiro antes e após o surgimento das escolinhas de futebol.
A análise a seguir tem como objetivo principal resgatar a história dos atletas paraibanos do passado e do presente que aprenderam o futebol nas ruas, várzeas e/ou escolinhas de futebol, de onde saíram para vestir a camisa da Seleção Brasileira.
Quando ainda não existiam escolinhas de futebol, muitos atletas paraibanos conseguiram se destacar no cenário nacional e internacional, alguns inclusive chegando a atuar pela Seleção Brasileira, a exemplo de Índio, Assis Paraíba iniciante e Mazinho. Chegar à elite do futebol brasileiro, inclusive chegando a Seleção brasileira num tempo em que o futebol era carente da estrutura que tem atualmente, ainda mais se tratando de atletas pertencentes a um dos estados maios pobres da federação, como sempre foi considerada a Paraíba, parece algo impossível de se acreditar. No entanto, muitos conseguiram conquistar esse feito com mérito.
No caso dos atletas do passado, baseado em alguns relatos obtidos através de familiares e/ou matérias de jornais, pode-se afirmar que poucos foram os que conseguiram tirar vantagem da carreira, pois naquele tempo às condições adversas e o futebol nem de longe tinha a valorização que tem nos dias atuais.
Dos atletas formados nos chamados campos de várzea, Índio foi um dos primeiros a deixar a Paraíba para tentar a vida em outros campos do Brasil e, com isso, conquistar o sucesso, atuando inclusive pela Seleção Brasileira. Segundo Toscano, o garoto Aloisio Francisco da Luz, nascido em 01/03/1931, saiu de Cabedelo para residir no Rio de Janeiro à procura de uma vida melhor. Aos dez anos de idade já trabalhava ao lado de seus familiares sem, contudo, deixar de jogar suas peladas. A fisionomia indígena deu-lhe o apelido que o tornaria reconhecido para o resto da vida, Índio.
Índio despontou no Flamengo durante o campeonato de 1948, sendo rapidamente incorporado ao time principal, no qual atuou por oito anos. Em 1953, foi convocado para a Seleção Brasileira e no ano seguinte participou da Copa do Mundo realizado na Suíça. Em 1957, foi negociado para o Sport Club e Corinthians Paulista, no qual permaneceu até 1959, quando saiu para jogar na equipe do Espanyol de Barcelona, lá permanecendo até 1965, onde se notabilizou pela sua velocidade e pelos gols que marcou nos diversos campeonatos que disputou. Em 1965 Índio voltou ao Brasil e encerrou sua carreira no América Futebol Clube do Rio de Janeiro.
Índio atuou nove vezes com a camisa da Seleção Brasileira e marcou quatro gols. Mesmo não conquistando nenhum título com a seleção canarinho, teve uma contribuição importante na conquista do mundial de 1958.
Um exemplo parecido com o de Índio foi o de Assis Paraíba. Natural de Campina Grande, Assis Paraíba iniciou sua carreira atuando pelo Treze na década de 70. Era oriundo de uma família envolvida com o futebol profissional, como os irmãos Zé Lima e Valdeci, que defenderam os principais clubes paraibanos. Ao deixar o Treze, Assis Paraíba foi defender o Tiradentes do Piauí; que na época era a grande sensação do futebol nordestino.
Depois o atleta foi para o Sport Recife, tendo chegado a fazer parte da Seleção Brasileira de 1979. Em seguida, deixou o futebol brasileiro e foi para a Arábia Saudita, onde atuou por três temporadas.
As histórias de Índio e Assis Paraíba talvez sejam os exemplos mais clássicos de atletas que iniciaram suas carreiras fora das escolinhas de futebol e mesmo assim conseguiram a façanha de numa época com poucas oportunidades se comparado aos dias atuais saíram da Paraíba e fizeram sucesso lá fora. Por isso mesmo, ambos podem ser considerados pioneiros dessa aventura no futebol do passado.
Seguindo a trilha desse pioneirismo, outro atleta que brilhou no nosso futebol e que também foi formado nas categorias de base de um dos clubes locais, neste caso, o Campinense Clube, foi Antônio Rinaldo Gonçalves, simplesmente Rinaldo, que assim como os outros acima, também fez sucesso no futebol nacional e internacional e atuou pela Seleção Brasileira.
Nascido coincidentemente no dia 31 de outubro (mesmo dia do jogo com Pelé) de 1966, em Campina Grande – PB, Rinaldo começou sua carreira no Campinense Clube, tendo depois atuado pelo seu maior rival, o Treze Futebol Clube. No entanto, o atleta ganhou fama e reconhecimento defendendo o Santa Cruz do Recife, sendo considerado um dos principais destaques do clube em todos os tempos. No final dos anos 80, o atleta teve seu passe negociado com o Fluminense do Rio de Janeiro, clube que o levou a Seleção Brasileira.
No começo dos anos 90, depois de ficar conhecido por ter sido fominha em jogo da Seleção Brasileira contra a Seleção o craque no estádio San Siro na Itália, no dia 31 de outubro de 1990, na comemoração do 50a aniversário do Rei Pelé, por não ter passado a bola para Pelé marcar o seu gol de número 1.282, Rinaldo nunca mais rendeu o mesmo futebol.
Ainda no início dos anos 90, Rinaldo chegou ao São Paulo, trocado pelo meia Bobô, mas nem nas mãos do mestre Telê Santana o ponta esquerda voltou a brilhar e terminou sendo dispensado pelo tricolor, tornando-se assim mais um andarilho do futebol. No tricolor paulista, segundo o Almanaque do São Paulo, Rinaldo fez 28 jogos, obtendo 12 vitórias, 08 empates, 08 derrotas, marcando apenas quatro gols.
Após a sua passagem pelo São Paulo, Rinaldo atuou por clube do Brasil e do exterior, a exemplo do Sport Clube Recife, Portuguesa paulista, Marítimo e Moreirense de Portugal, Juventude do Rio Grande do Sul, além de equipes do México, Tunísia, Japão, Espanha, Grécia, China, Turquia, atuando por último no F. C. Kaernten, da Áustria, um de seus últimos clubes.
Segundo alguns torcedores internautas, após encerrar sua carreira Rinaldo teria virado pastor evangélico e ido morar na cidade de Limeira – SP.
Assim como aconteceu com o Campinense Rinaldo, poucos anos depois outro paraibano natural de João Pessoa seguiria o mesmo destino e pela mesma razão que o primeiro: trabalhar para ajudar a família que passava por uma grave crise financeira. Falamos de Leovegildo Lins Gama Junior, o Júnior do Flamengo e da Seleção Brasileira.
Nascido em João Pessoa no dia 29/06/1954, Junior saiu da Paraíba ainda garoto ao lado de sua mãe. Oriundo do futebol de praia, nas areias de Copacabana, sua primeira escola, o atleta foi levado para o Flamengo aos 20 anos de idade e logo se tornou titular da lateral direita no Clube da Gávea.
Eduardo Pimentel
Técnico de Futebol
