FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA - MATERIAL MAL APROVEITADO II - SóEsporte
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FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA – MATERIAL MAL APROVEITADO II

A terceira condição é que, sendo o futebol uma atividade iminente de jovens, o jogador brasileiro leva grande vantagem: o menino brasileiro entra na vida muito cedo. É, antes de tudo, um precoce. O nível de vida de nosso povo faz sua infância difícil, amadurece e pensa como adulto.

No interior, um moleque de oito anos já é considerado meia esquerda. Aos quinze anos, quando fica sendo uma enxada e começa a tratar de sua vida, geralmente sai de casa para poder usufruir, só, de seu trabalho. Aos dezoito, muito comumente, já constituiu sua família. Na Europa, o garoto desta idade, nos países mais desenvolvidos, ainda usa calça-cinta e está na escola. O brasileiro já é um adulto.

A vida que leva obriga a que enfrente os problemas como tal.

Na cidade também, desde cedo, o garoto entra na vida. Excluindo os que estudam na escola secundária e que são poucos, os demais não completam a escola primária, e/ou vão trabalhar numa fábrica e no comércio para ajudar em casa ou, em menor quantidade, mas que é apreciável, perambulam pelas feiras biscateando, brincando e correndo da polícia. Desde muito cedo, portanto, o menino brasileiro, embora seja incluído, ignorante, enfrenta a vida com todo o realismo e os problemas que em países mais adiantados são de adultos.

Em quarto lugar, a etnologia e a etnografia nos ensinam que a formação do brasileiro, principalmente daquele de origem africana, reúne a condição mais exigente para o jogador de futebol. Não discuto que Yuri Gagarin e Sheppard voem mais alto e mais depressa do que qualquer um. Mas, no chão, ninguém consegue vantagem com os atletas negros, que, apesar de suas condições de vida inferiores e de serem uma minoria na população mundial, levam a melhor em todos os esportes que praticam. Sua origem de luta contra um meio difícil exercitou através dos séculos, músculos e reflexos como única arma para se defender das agressões. Não é por acaso que na gíria do futebol se diz comumente quando Pelé e Garrincha fazem uma jogada daquelas: – Pudera, não é vantagem: o avô deste crioulo, para sair de casa e ir buscar água tinha que dar dribles num leão.

Todas estas condições são naturais e nos dão grande vantagem. O menino inglês, o italiano ou o francês chegam ao clube de futebol e muito educadamente dizem ao treinador: – Eu desejo aprender a jogar futebol.

O treinador dá uma olhada para ver se possui algum defeito físico (o Garrincha jamais jogaria num clube inglês), mede sua altura, toma o peso e marca o dia da primeira aula. Começa mostrando uma série de fotos e gráficos que ensinam como chutar a bola: Figura 1 – chutar com o lado de dentro do pé (e lá está um jogador considerado perfeito, dando um chute). Passa ara a figura 2 – onde outra posição de chute está impressa… Depois vem o Didi, dá um chute de curva, o goleiro vai para um lado e a bola entra no outro e seria o caso de perguntar: Vale ou não vale? Não está no livro?

Bibliografia

Os Subterrâneos do Futebol Brasileiro. João Saldanha.

Eduardo Pimentel

Técnico de Futebol

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