O 16 de julho de 1950. Esta era a data da consagração do populismo que estava marcada para a tarde de 16/07/50.
Nossos “inimigos” vinham de: Máspoli, Matias Gonzales e Tijira; Gambitta, Abdulio Varela e Rodriguez Andrade; Gigghia, Perez, MIguez, Schieffino e Moran. Nós de: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.
Cantados os hinos, a voz do Prefeito encheu os alto-falantes: Vós, jogadores, que a menos de poucas horas sereis aclamados Campeões do Mundo por milhões de compatriotas; Vós que superais qualquer competidor, Vós que eu saúdo como vencedores… Palmas. Vivas. Ranger de dentes. E aquele rumor único, inconfundível, dos estádios antes das grandes decisões. Mr. Reader chamou os dois capitães para o Toss. Deu um peteleco na moedinha com a cara do Dutra.
Maracanã, em tupi-guarani, é um pássaro cor de abóbora que imita o som do chocalho. Anote aí quanto custou o maior estádio do mundo, com 469950 toneladas de cimento, 1275 metros cúbicos de areia, 3933 metros cúbicos de pedras, 10597661 quilos de ferro, 55250 metros cúbicos de madeira, 50000 metros cúbicos de terra, foram escavados só para nivelar o terreno.
No jogo de estreia da nossa seleção a “vitrine” foi o México. Cinco mil pombos foram libertados; e, quando baixou a fumaça dos morteiros, lá se viam os astecas tremendo de medo. 4 a 0. Depois de um empate em São Paulo, com a Suíça, 2 a 2, voltamos ao Maracanã: batemos a Iugoslávia de 2 a 0. A Suécia quis jogar aberto, enfiamos 7 a 1. A Espanha se fez de besta, não se trancou, encaçapamos 6 a 1, o maior baile sem música da história. Chico chegou a sentar na bola. Ademir, no finzinho, carregou a “criança” nas costas, do meio campo à meia lua. Danilo fez 22 embaixadas com o calcanhar. Acredite quem quiser.
Faltava o Uruguai. Ia ser estraçalhado. O próprio técnico deles, antes da batalha, agradeceu aos jogadores: Vocês foram ótimos até aqui, pensem na honra da Pátria, só peço que evitem a goleada, se as pernas não resistirem ao baile pensem em Artigas, o Libertador. Isso é tudo, rapazes.
Duzentas e vinte mil pessoas numa tarde banhada de cintilante sol. Tive medo de dormir de véspera nos portões monumentais e na hora da correria não entrar. Saía gente pelo ladrão. Vários jornais deram em manchete: “Brasil, Campeão do Mundo! Quatrocentos anos e sessenta milhões de brasileiros”.
Na tarde azul, de 16 de julho de 1950, o pássaro de cimento chamado Maracanã. Formadas as equipes, Mr. Reader trilou o apito. Aí, foi o silêncio. Cadê os nishes de Queixada? Cadê as fintas de Mestre Ziza? As bombas de Jaja, as largas esticadas do Príncipe Danilo, os passos de ganso do divino Bauer? O que se via era o Uruguai em cima de nós. Nossos homens pareciam colados, com visgo, no chão. Obdulio Varela deu um safanão em nosso lateral esquerdo. Trinta minutos do primeiro tempo: nada. Quarenta, quarenta e cinco. No intervalo a massa voltou a explodir, esparramando-se pelos corredores do monstro. O empate nos dava a Copa do Mundo. Não ia ter goleada, o Uruguai não era a Espanha, paciência. Mal começou o segundo tempo, contudo, nosso ponta direita meteu um. Agora é Gigghia que avançou, Bigode vai recuando, recuando. Gigghia chega ao corner, atrasa para Schiaffino, que pega meio de voleio. Barbosa pula atrasado. Pura desgraça. Outra bola: Gigghia descobrira o mapa da mina.
Bigode passara anos dando carrinhos. Chegava a ensaiar em casa, na frente do espelho. Naquele gringo, não deu um sequer. Gigghia faz que dá de novo para o maldito Schiaffino. Enfia. A bola ia para fora. Barbosa foi nela que nem uma mulher parida. Colocou para dentro. Obdulio pinçava a própria camisa e mostrava ao Brasil: Es la Celeste! Es la Celeste! Este jogo nunca houve, para muitas pessoas da minha geração, que, entretanto, o viram.
Bibliografia
História política do futebol brasileiro. Joel Rufino dos Santos.
Eduardo Pimentel
Técnico de Futebol
