FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA - UM TIME DE FUTEBOL PODE SER A IMAGEM DO TÉCNICO DE FUTEBOL I - SóEsporte
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FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA – UM TIME DE FUTEBOL PODE SER A IMAGEM DO TÉCNICO DE FUTEBOL I

FUTEBOL: ARTE E CIÊNCIA

 

UM TIME DE FUTEBOL PODE SER A IMAGEM

DO TÉCNICO DE FUTEBOL  I

 

25 ANOS DE POY

 

Ele chegou da Argentina em 1949 e até 1963 foi goleiro titular do São Paulo graças a seriedade com que ele encarava a sua profissão. Encerrou a carreira, foi ficando, virou supervisor, viu-se levado a assumir a direção técnica do time. Com um sucesso que reflete sua personalidade.

Nos últimos quatro anos, o São Paulo, embora sem ter sempre o mesmo time e mesmo sem ser formado por grandes jogadores, vem mantendo o nível técnico entre bom e muito bom, bicampeão paulista, uma vez vice invicto, a um ponto de campeão, e duas vezes vice-campeão brasileiro, e tem provado muitas vezes uma mesma indagação, quem é o responsável por esta proeza.

As respostas falam do tipo de homens que dirigem e do bom nível dos seus jogadores, lembram-se de Gerson, de Pedro Rocha e acaba dando maior ênfase a um homem que está por lá a 25 anos e que nesses quatro últimos foi chamado para ser técnico nos dois momentos em que a crise técnica começava. Na primeira vez em 1972, ele o pegou num dos últimos lugares da tabela, só classificado para a segunda fase do campeonato brasileiro por que a mesa foi virada para que dois times do Rio também entrassem, e acabou vice-campeão. Só não ganhou a Taça Libertadores das Américas por que o time, inexplicavelmente, empatou dois jogos fácil dentro do próprio Morumbi. Na segunda vez, foi chamado depois que duas experiências – com Valdir Mota e Telê Santana não deram certo.

Durante o jogo não ri, não fuma e quase não fala. Fica mais de pé que sentado, resmunga muito, fica tenso e às vezes sente uma vontade louca de entrar em campo para dar uns empurrões em Piau, para fazer Terto soltar mais a bola para gritar com Arlindo ou para dizer a Pedro Rocha que o jogo só termina depois de 90 minutos. Sabe controlar a raiva, mas não deixa de mostra-la quando as coisas passam do limite rígido que ele estabelece.

No último São Paulo x Corinthians todo mundo viu que o time, depois de passear em campo no primeiro tempo, evitando contusões, pois já estava classificado, voltou para o segundo correndo, brigando e querendo ganhar como se fosse sua última chance. O jogo terminou empatado e nos vestiários, descontraídos, entre sorrisos e abraços de dirigentes e torcedores, só ele ainda resmungava como uma cobra velha.

 

MELHOR PODER

 

Prefiro mil vezes perder do que empatar um jogo, desse jeito um time de futebol de profissionais não pode tomar um gol de bobeira no último minuto de jogo. Isso me mata. Tenho vontade de agarrar um pelo colarinho. Ainda bem que a vontade passa e eu sei o que devo e o que não devo fazer.

Todas as pessoas que passaram e que têm vivido o São Paulo nesses vinte e cinco anos o conhecem bem. Alguns velhos companheiros do time o querem como um irmão, quase todos os jogadores formados nos infantis e juvenis o veem em como um pai, duro mais honesto, e algumas outras pessoas, até mesmo ex-dirigentes, veem nele um demônio, um amigo.

Dizem que todo homem acaba fazendo sempre com que sua obra reflita a sua personalidade, seu modo de agir e de pensar. Pois o time do São Paulo é quase a imagem de Poy. Eu conheço muito bem os dois e, quando o time corre, briga, vira um jogo, mostra raça, sem filigranas mais com muita objetividade, ele é o próprio Poy que eu conheci dentro do campo e que continua o mesmo aqui fora. Veja a fisionomia, a cara dele aqui fora do estádio, alegre, sorrindo e sinto como ele muda ao passar aquele portão. Aqui ele sente apenas o seu amigo, conversando, falando de qualquer coisa. Lá dentro ele se sente trabalhando e sua ideia se fixa no próprio treino, no próximo jogo. Ele é um cara sério, duro, humano, honesto, amigo dos amigos, inimigo dos inimigos e muito pão duro. Gino Orlando, ex-centroavante do São Paulo.

Gino e Poy jogaram numa mesma época no São Paulo e agora trabalham juntos. São dois tipos diferentes. Gino gosta de brincar, de relembrar as coisas que fazia nos velhos tempos, das brincadeiras de concentração e das viagens, mas sabe que só vai se lembrar dessas coisas na hora certa. Poy conseguiu ficar rico jogando só no São Paulo e o maior tempo na época das vacas magras, da construção do estádio. Nunca disse muito nas reformas de contratos, não era de pedir aumento mais soube aproveitar bem as amizades e o cartaz que tinha como grande jogador.

Foi um dos maiores, ou o maior vendedor de títulos patrimoniais e cadeiras cativas do São Paulo. Nas horas de folga, enquanto outros passavam ele vendia.

Ele não mudou nada, só ficou mais pão duro. Sempre gritou em campo, sempre orientou a defesa e enxergava muito o jogo. Eu e Albella, aquele argentino bigodudo, fizemos muitos gols com passes de Poy. Ele sabia meter uma bola na cabeça da área adversária. Nunca vi ninguém reclamar tanto por perder um jogo. Até hoje é assim. A turma aí passa apertado com ele. Gino ninguém vê diferenças marcantes entre o Poy jogador e o Poy técnico, sua personalidade, a força de vontade que o ajudou a se impor durante quase treze anos no gol do São Paulo, o sentido de justiça, a maneira de encarar o futebol e de analisar a profissão, tudo continua igual e tudo ele tenta transferir para o time agora. Fala Feola.

 

 

Eduardo Pimentel

Técnico de Futebol

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