Campeão mundial com a Seleção Brasileira em 1959, Pedro Vicente Fonseca, o Pecente, completa 80 anos de idade nesta quarta-feira (dia 21). Apesar da idade e dos problemas de saúde que enfrentou, ele continua com a memória afiada e relembra de duas decisões que marcaram sua vida. A primeira, quando teve que deixar de ser um promissor meia-esquerda do futebol para se tornar um dos melhores armadores de todos os tempos. E a outra, a mais difícil, segundo ele, foi optar pelo trabalho e a família a defender a Seleção.
A vida de Pecente, que nasceu em São Vicente (SP), mas que optou por viver os últimos 60 anos em Piracicaba (SP), foi igual a de muitos meninos. Gostava de jogar futebol, basquete e vôlei. Até os 15 anos era uma promessa do futebol do Santos. Era companheiro do ponta-esquerda Pepe e do atacante Emmanuele Del Vecchio, que viriam a integrar a equipe santista ao lado de Pelé. O trio de São Vicente começou no infantil e chegou ao juvenil jogando futebol.
“O Del Vecchio também era um craque de basquete e no futebol. Eu, apesar de ter sido um bom meia-esquerda, canhoto e com muita habilidade, não tinha certeza do meu futuro no futebol. Optei pelo basquete e o Del Vecchio pelo futebol. Os dois se deram bem”, lembrou Pecente, apelido que ganhou na infância por causa da junção de Pedro e Vicente,
A dúvida entre basquete e futebol era grande para Pecente, mas, em 1951, a Seleção da Liga Santista, do qual fazia parte como jogador juvenil foi jogar na Argentina. E, ao lado de Wlamir Marques e outros craques, a decisão foi tomada. “Quando voltei da excursão, tinha decidido jogar basquete pelo incentivo dos amigos, como o Wlamir, e por ter ficado um ano no basquete do Santos, em que cheguei ser convocado para a Seleção que foi vice do Mundial de 1954, no Rio. No ano seguinte, com a boa amizade que fiz com o Wlamir e o Waldemar (Blatskauskas), fui para Piracicaba e tudo mudou na minha vida. Casei, tive a felicidade de ter quatro filhos, hoje todos formados e com uma vida muito boa”, contou.
Pecente destaca ainda que com o basquete ganhou tudo o que podia. “Fiz parte da Seleção Paulista que desbancou a hegemonia do Rio de Janeiro. Fomos com uma equipe forte que tinha o Wlamir, Amaury, Rosa Branca, Waldemar, Mosquito e ajudei a conquistar três brasileiros (1955, 1957 e 1959). Na época não tinha campeonato nacional de clubes e o de seleções era de dois em dois anos”.
Considerado um dos melhores armadores da história do basquete brasileiro, Pecente lembra que, no Mundial de 1954, com 24 anos, estava na sua melhor fase técnica. “Estava voando. Talvez aí tenha sido o maior erro do Kanela (técnico da Seleção). Ele não quis renovar a equipe que tinha sido medalha de bronze na Olimpíada de Londres, em 1948. Só levou o Amaury e o Wlamir, com 18 e 17 anos, respectivamente. Acho que se o Kanela tivesse levado mais jovens, como o Rosa Branca, Edson Bispo, Waldemar e o Laerte Gomes, na época o melhor pivô brasileiro, poderíamos ter sido tricampeões mundiais”.
Hoje aposentado e curtindo filhos e netos, e um eterno amor à Piracicaba, as recordações do basquete fazem parte do cotidiano de Pecente. “Só tenho que agradecer a Deus por tudo conquistado. Fui campeão mundial e jogando. Não era titular, mas quando entrava dava conta do recado, armando, fazendo ponto, cobrando os companheiros. Fui nove vezes campeão dos Jogos Abertos em São Paulo, em uma época que era uma guerra e minhas amizades foram eternizadas. Seria injusto citar nomes”, afirmou.
Pecente recorda outra decisão difícil na sua vida: ter uma carreira curta na Seleção. “Tive que optar pela família e pelo trabalho. Joguei na Seleção de 1954 a 1959. Logo que mudei para Piracicaba, comecei a trabalhar na Empresa Dedini e não podia me ausentar. Naquele período, não se ganhava dinheiro jogando basquete. Minha primeira filha nasceu quando eu estava no Chile e depois vieram mais três. Tive que optar pelo trabalho. Acho que dei minha contribuição ao basquete sendo técnico e coordenador do Clube de Campo de Piracicaba”, completou.
Em toda sua trajetória no basquete, Pecente tem no armador americano Oscar Robertson o melhor jogador que viu atuar. Quantos aos brasileiros não pensa duas vezes. “Tivemos dois fenômenos que foram Amaury e o Wlamir”, finalizou.
