Ligamento colateral medial: entenda sintomas e tratamento da lesão de Tiquinho - SóEsporte
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Ligamento colateral medial: entenda sintomas e tratamento da lesão de Tiquinho

Ligamento colateral medial: entenda sintomas e tratamento da lesão de Tiquinho

Domingo passado, mais um jogador de futebol acabou se lesionando durante uma dividida com o adversário: o atacante Tiquinho Soares, do Botafogo. Durante o lance, é nítido que o pé do jogador está preso ao gramado e o contato físico com o adversário força o joelho na posição conhecida em medicina como valgo, ou seja, forçando a abertura da região de dentro do joelho e levando à lesão do ligamento conhecido como colateral medial. Mas que ligamento é este? A lesão deste ligamento é grave? Precisa operar? Vamos entender mais a seguir.

O que é o ligamento colateral medial

O ligamento colateral medial (LCM) atua como a principal restrição biomecânica em valgo (abertura da região de dentro do joelho) da articulação do joelho em 0° a 30° de flexão do joelho. Estatisticamente, é a segunda lesão ligamentar do joelho mais frequente no futebol, vindo atrás apenas da lesão do ligamento cruzado anterior. Um time de futebol profissional masculino com um elenco típico de 25 jogadores sofrerá, em média, duas lesões no ligamento colateral medial a cada temporada, enquanto o mesmo time encontrará apenas uma lesão no ligamento cruzado anterior a cada duas temporadas.

Estima-se que a incidência anual de lesões ligamentares do joelho nos Estados Unidos é de 70.000 lesões do ligamento cruzado anterior (LCA), 40.000 lesões do ligamento colateral medial (LCM) e 20.000 lesões combinadas do LCA/LCM.

Sintomas da lesão do ligamento colateral medial

Os sintomas mais comuns na lesão de ligamento colateral medial são:

Dor na parte medial (interna) do joelho;

Inchaço (edema) e hematoma, que, após alguns dias, pode descer pela perna até o tornozelo;

Hemartrose: trata-se de um derramamento de sangue dentro da articulação. No caso das lesões do ligamento colateral medial, este é um sintoma raro, devido ao fato de este ser um ligamento extra-articular. Por isso, quando presente, suspeitamos sempre de lesão associada ao ligamento cruzado anterior;

Incapacidade de flexionar o joelho: isso pode ser causado tanto pela dor quanto por bloqueios mecânicos de estruturas lesionadas dentro do joelho;

Atrofia muscular da coxa: assim como em outras lesões no joelho, como a artrose e a condromalácia, ocorre tardiamente, caso a dor persista. A isso chamamos de inibição artrogênica do quadríceps.

Independentemente da gravidade dos sintomas, quando a lesão do ligamento colateral medial não é bem diagnosticada e tratada, pode persistir por muito tempo, gerando incapacitação plena ao esporte e para atividades do dia a dia.

Graus da lesão do ligamento colateral medial

Grau 1 – Nas lesões de ligamento colateral medial grau 1, temos apenas um estiramento, que na maioria das vezes é causado por entorse. Neste caso, a lesão é incompleta e não afeta a parte estrutural do ligamento. A recuperação é rápida (entre duas e quatro semanas) e não afeta a parte estrutural do ligamento. Felizmente, é a mais comum delas;

Grau 2 – Nas lesões de ligamento colateral grau 2, temos uma ruptura parcial do ligamento. Ou seja, apenas algumas fibras dele se rompem. Neste caso, é comum o paciente sentir algum grau de instabilidade na articulação e dores. No geral, estas lesões levam de quatro a oito semanas para cicatrizar e não têm necessidade de cirurgia;

Grau 3 – No grau 3, temos o rompimento total do ligamento colateral medial. Neste caso, temos uma enorme instabilidade na região de dentro (medial) da articulação, com limitação dos movimentos. Quando temos uma lesão de grau 3 no ligamento colateral medial, a estrutura do joelho como um todo acaba ficando comprometida, gerando incapacidade para determinados movimentos e gestos esportivos. No futebol, por exemplo, o toque de bola de “chapa do pé” fica comprometido. O jogador sente que o joelho “abre” durante o esporte. Há casos onde não há necessidade de cirurgia, mas eles são incomuns. No geral, o tratamento passa por uma abordagem cirúrgica e o tempo de recuperação varia de oito a 12 semanas.

Tiquinho Soares não vai precisar de cirurgia. O atleta já começou a fisioterapia e deve voltar ao campo em cinco semanas.

Diagnóstico

Assim como qualquer lesão dos ligamentos do joelho, o diagnóstico é dado através de uma história de trauma no joelho, seguida de um bom exame físico e da análise de exames de imagem como a ressonância magnética e radiografias. É muito importante que o médico tenha conhecimento sobre o esporte que o paciente pratica, tendo em sua mente dados estatísticos de suas principais lesões.

Ao examinar o paciente, palpamos toda a extensão dos pontos dolorosos e, se a dor não for forte, aplicamos a manobra chamada “estresse em valgo”. Ela é realizada com o joelho flexionado a 30 graus (para tirar a ação do ligamento cruzado anterior). Através dela, testamos a abertura de dentro do joelho. Quando positiva, dizemos que existe “bocejo” e só é considerada positiva quando a abertura é maior que o joelho sadio.

A ressonância magnética (RM) mostra a distensão do ligamento, o tamanho do sangramento, o grau da lesão ligamentar e se houve ou não lesão a outras estruturas do joelho como outros ligamentos, meniscos e cartilagem do joelho.

E o tratamento?

O ligamento colateral medial tem maior potencial de cicatrização espontânea após lesão e, portanto, muitas vezes leva à recuperação total devido à sua localização extra-articular e vascularização suficiente, em contraste com o ligamento cruzado anterior, que, uma vez rompido, deita-se na articulação, levando à necessidade de tratamento cirúrgico, na maioria das vezes. Consequentemente, as lesões isoladas de grau I e II do ligamento colateral medial são tratadas quase exclusivamente de forma não cirúrgica, com fisioterapia progressiva e, às vezes, uma joelheira estabilizadora, enquanto as lesões de grau III podem exigir intervenção cirúrgica adicional com reparo ou reconstrução ligamentar.

Sequela comum

Uma sequela comum da lesão deste ligamento é a persistência de dor na região de dentro do joelho, causada pela formação de aderências durante a cicatrização do ligamento. Hoje, felizmente, com o auxílio do ultrassom no consultório é possível realizar uma tração local denominada de hidrodissecção, na qual as traves fibrosas são eliminadas, com alívio da dor e retorno ao esporte.

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