Um encontro entre o esporte e a música: conheça a história de Marquinhos! - SóEsporte
Atletismo

Um encontro entre o esporte e a música: conheça a história de Marquinhos!

O início dessa história até que é parecida com muitas outras. Pandemia, tudo fechado, tédio. José Marcos Martins dos Santos, o Marquinhos, então com 11 anos, começou a desenvolver um hobby que tinha descoberto poucos meses antes: a flauta doce. 

O que separa Marquinhos dos artistas de pandemia é que, pouco mais de dois anos depois, ele já tocava mais de 10 instrumentos. No mesmo período, ainda havia descoberto outro talento completamente diferente: o atletismo, esporte que já lhe rendeu 19 medalhas desde 2021. 

Esse destaque na música e no esporte permitiu que Marquinhos já tenha realizado alguns sonhos com apenas 13 anos, como tocar ao lado do maestro João Carlos Martins e conhecer o atleta paralímpico mais rápido do mundo, Petrúcio Ferreira.

Para quem vê de fora, é um turbilhão de emoções em muito pouco tempo, mas o menino se senta calmamente para contar como tudo isso aconteceu. Marquinhos nasceu e mora em João Pessoa (PB), e conversou com o CPB quando veio a São Paulo para o Camping Escolar, que aconteceu no Centro de Treinamento do Comitê Paralímpico. 

Marquinhos nasceu com glaucoma, mas perdeu a visão de vez aos seis anos de idade por conta de uma atrofia ocular. A música surgiu alguns anos depois, quando começou a frequentar Instituto dos Cegos da Paraíba, que promove atividades em diversas áreas.

A descoberta do talento

Na pandemia, quando o seu talento na música floresceu, ele contou com a ajuda do pai, Marcos Antônio, que não sabe nada de flauta. No entanto, com ajuda de vídeos no YouTube, foi mostrando para o filho onde colocar os dedos para produzir cada nota.

Em pouco tempo, ele começou a tirar muitas músicas só de ouvido. O segredo? Marquinhos diz que é persistência. “Não é só pegar uma vez e pronto. Tem que praticar até acertar. Aí acertou? Não para porque senão você vai decorar o que você errou porque a gente erra mais do que acerta”.

Marquinhos é fã de música clássica e diz que prefere tocar composições de Beethoven, Tchaikovsky, Bach, Chopin e Rachmaninoff.  

Marcos Antonio, o pai de Marquinhos, diz que o filho acabou desenvolvendo ouvido absoluto em pouco tempo, que é a capacidade que algumas pessoas têm de identificar a nota musical exata de qualquer som.

Com a facilidade para tocar flauta, o adolescente se empolgou e começou a pedir ao pai outros instrumentos, como pífano, violão, teclado, piano, contralto, baixo e contrabaixo. 

Como a família é humilde e têm recursos limitados, muitos instrumentos foram presentes de amigos e outros foram comprados com a ajuda de rifas. “Para comprar o piano, tive que dar meus pulos, parcelar em muitas vezes, mas deu certo”, conta Marcos.  

Marquinhos diz que hoje toca 9 instrumentos, mas há controvérsias. Segundo o pai, ele toca mais de 15. Marquinhos, porém é pé no chão e exigente. Só diz que toca os instrumentos quando já domina ou quase domina, como flauta, pandeiro, triângulo, piano, ukulele, teclado e bateria. 

A chegada ao atletismo

Um ano depois que Marquinhos seguia firme na música, outra paixão inesperada apareceu. Um professor do Instituto dos Cegos achou que Marquinhos se daria bem no atletismo e o inscreveu nas Paralimpíadas Escolares nacionais.

O menino achou que, com sorte, voltaria para casa com uma medalha de bronze, mas voltou com uma de bronze e duas de prata em sua primeira participação no maior evento esportivo para jovens com deficiência do mundo, depois de um mês de treinos.

Ele diz que para se dar bem num esporte não basta ser bom, mas se sentir bem praticando. “Você tem que se sentir bem, senão você desiste”. Marquinhos ainda diz que uma das melhores sensações trazidas pelo esporte é a de estar competindo. 

As conquistas na música e no esporte começaram a chamar a atenção. Primeiro, dos jornais de João Pessoa. Depois, já protagonizava reportagens de alcance nacional, como no Fantástico, da Rede Globo, em dezembro de 2022.

Foi o programa dominical que mostrou a paixão de Marquinhos pelo atletismo e música. Além disso, promoveu o encontro com um de seus maiores ídolos, o maestro João Carlos Martins.

Eles conversaram, tocaram piano juntos e o maestro ainda convidou o menino para se apresentar com ele no ano que vem. Maestro no comando e Marquinhos na flauta transversal. Marquinhos diz que está treinando muito para fazer bonito ao lado do maestro. 

E está muito enganado quem acha que esporte e música não têm nada a ver. “Música ajuda no esporte e vice-versa, principalmente, na questão ritmica e na coordenação. No esporte e na música, você precisa que ter uma coordenação boa. Quando eu corro, o movimento de braços e pernas tem que estar em harmonia e a música ajuda muito nisso”. 

Incentivo dentro de casa

Marquinhos acredita que com dedicação é possível chegar em qualquer lugar, mas há algo a mais por trás da sua autoconfiança: o incentivo e empoderamento construído dentro de casa. 

O pai de Marquinhos conta que o filho mais velho, Emmanuel, também nasceu com glaucoma e se emociona quando relembra o episódio que o motivou a incentivar os filhos a irem cada vez mais longe.

Um dia, seu filho mais velho chegou em casa chorando e perguntou: “Pai, eu sou um monstro? Por que eu tenho esse olho diferente”. 

“Naquele momento, eu comecei a trabalhar minha mente e a mostrar para os meus filhos que eles podem ser quem eles quiserem. Eles podem entrar onde qualquer pessoa entra, comer onde qualquer pessoa come. Eu digo para Marquinhos não se sentir menor quando alguém fala coisas como ‘coitado do menino ceguinho’. Você é igual a qualquer outra pessoa e, mais do que isso, pode fazer coisas que muita gente não faz. Eu sempre bati nessa tecla com ele”

Outro ponto de atenção para os pais de Marquinhos é a autonomia. Para participar do Camping Escolar, em São Paulo, Marquinhos fez sua primeira viagem sozinho. “Ficamos com o coração na mão, mas sabemos que ele está sendo muito bem cuidado e da extrema importância de ele se virar sozinho. Queremos que ele vá cada vez mais longe”, diz o pai orgulhoso. 

Marquinhos pegou o recado e afirma que já tem planos para ficar ainda mais independente: dominar o braile e tomar aulas para se virar bem de bengala. 

E, para encerrar, perguntamos sobre o futuro: Vai prevalecer a música ou o atletismo? E sem pestanejar o garoto diz que não vai abrir mão de nenhum. “Serei músico….e também atleta”. 

Se você conhece alguma criança com deficiência física, visual e intelectual, fique atento às inscrições para participar da Escola Paralímpica de Esportes do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

O projeto promove a iniciação esportiva de crianças e jovens, com deficiência física, visual e intelectual, na faixa etária de 7 a 17 anos, em treze modalidades paralímpicas.

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